Dez anos após sua morte, Sabotage é tema de dois documentários, uma biografia, um disco de músicas inéditas e um filme de ficção. Mauro Mateus dos Santos na cédula de identidade, “Maestro do Canão” para os colegas e o Maurinho dos amigos, o rapper brasileiro vem sendo homenageado de inúmeras formas neste ano. Uma complementa a outra, todas reverenciam o mito, mas o enigmático personagem persiste. Como arrisca Mano Brown, vocalista dos Racionais MC’s, na biografia oficial: “Daqui a 100 anos ele será conhecido quase como um santo católico.”
Se vivo estivesse, Sabotage estaria com 40 anos. Não completou 30, assassinado em 24 de janeiro de 2003, três meses antes de seu aniversário. O artista da periferia da zona sul de São Paulo é frequentemente descrito como um músico criativo e diferenciado, que tinha o esmero de fundir o samba ao rap ou que era influenciado por Chico Buarque, Pixinguinha, Noel Rosa, Caetano Veloso, Eminem e Jay Z.
O livro Sabotage, Um Bom Lugar, do escritor Toni C., é um bom começo para conhecer a vida de Sabotage, do nascimento até a sua morte. Embora não tenha conhecido pessoalmente o rapper, Toni C. realizou uma grande pesquisa com reportagens já publicadas e documentos públicos. Entrevistou ainda amigos, artistas como Mano Brown e parentes, como a mulher de Sabotage, Dalva. Em um trecho, é ela quem narra o assassinato do marido:
“Eu pedi para a médica: ‘Posso ver ele?’ Ela falou: ‘pode’, mas me perguntou primeiro: ‘quantos filhow você tem?’ Na hora que ela me perguntou aquilo eu… pela feição dela quando falei que tinha dois filhos… eu já falei, ‘pronto, ele deve estar lá dentro morto’.
Toni C., na parte final do livro, põe em dúvida a versão de que Sabotage teria sido morto por uma disputa no tráfico de drogas, ocorrida três anos antes do crime, e que sentenciou Sirlei Menezes da Silva, vulgo Derlei, a 19 anos, 9 meses e 3 dias de prisão. Afirma que membros de sua pesquisa ouviram o seguinte alerta de um policial conhecedor do caso: “Vocês estão mexendo em caixa de marimbondos. Não vejo a necessidade em ser tão minucioso, para escrever um simples livro.” A obra deixa a questão no ar.
Do álbum inédito, sobre o qual já rolaram inúmeras versões e contraversões, Rappin Hood afirma que ele sairá por sua gravadora, Raízes Discos: “É um disco para provar que o Sabotage estava à frente do seu tempo.” Na semana passada, DJ Cia e Dexter se reuniram para gravar uma das faixas. O Portal Rap Nacional, que sempre reverenciou a genialidade de Sabotage, registrou a gravação.
Em fevereiro, produtor musical Daniel Ganjaman afirmava, ao FAROFAFÁ, sobre o já famoso álbum: “Muita coisa perdida, muita gente envolvida, um disco muito complexo de ser resolvido.” Ele adiantava que a faixa Canão Foi Tão Bom, que inundou a internet em diversos clipes, era apenas uma primeira (e não definitiva) versão da música. Rica Amabis e Tejo Damasceno, do coletivo Instituto, que ajudaram na produção do primeiro disco de Sabotagem, Rap é Compromisso, trabalham sobre faixas extras, algumas delas que nem possuíam nome.
Rappin Hood, um dos primeiros a acreditar no potencial de Maurinho, também estrela o documentário Sabotage Nós, que estreou semana passada na internet. Além dele, o vídeo traz o testemunho de importantes nomes do rap nacional, como Helião (RZO), Sandrão (RZO), DJ Cia, Negra Li, DJ KL Jay (Racionais MC’s), Tejo Damasceno, Ganjaman e Sombra (SNJ).
Dirigido por Guilherme Xavier Ribeiro, o filme apresenta também os dois filhos de Sabotage, Wanderson (Sabotinha) e Tamires, que mostram o cotidiano da Favela do Boqueirão, onde moram e onde viveu Sabotage após a saída da Favela do Canão, onde nasceu o rapper e hoje foi tomada por um canteiro de obras do metrô. São os herdeiros do rapper e mãe deles que lutam, a duras penas, para manter viva a memória de Sabotage.
Um outro documentário, Sabotage: O Maestro Do Canão, deve ser lançado até o fim deste ano. O filme que retrata a vida e a morte do autor da icônica Rap é compromisso é dirigido por Ivan 13P, que também assina a produção ao lado de Denis Feijão. Che Guevara da música, um Garrincha, gênio, revolucionário, o mais inovador rapper brasileiro, não faltam adjetivos para descrever o artista, que também teve memoráveis participações nos filmes O Invasor (2001), de Beto Brant, e Carandiru (2003), de Hector Babenco.
Denis Feijão também assina a produção do longa-metragem com a vida de Sabotage, dirigido por Walter Carvalho, atualmente em fase de produção. Enquanto filmava com Carvalho o documentário Raul, O início, o fim e o meio, o produtor conheceu Sabotinha, primogênito do rapper, e, com auxílio de Rappin Hood, conseguiu chegar à família do rapper morto.
Mais que resgatar a importância de Sabotage, essas homenagens, umas mais, outras menos, procuram dar suporte à família do rapper. Na Favela do Boqueirão, toda ajuda é bem-vinda.
Eduardo, como vai, por favor tira essa font (tipologia) não da pra ler
Oi, Rodrigo, pode nos ajudar nisso? Tem alguma sugestão? Porque temos um layout com essa fonte, e se mudarmos aleatoriamente pode ficar pior.
Sabotagem morto pelo tráfico, Marighela morto por ser terrorista, Amarildo morto pelos traficantes, e assim só vamos aumentando a lista dos que são “mortos pelo que são” e não pelo que os fazem “ser”. Por outro lado, acabam virando mitos e servindo como inspiração para quem vê a hipocrisa de uma “sociedade justa e unida para o bem comum”. Como ele mesmo disse: “vai não fé, não na sorte!”