(teatro oficina, 8.7.2013)

ROBERTO SCHWARZ

Caros amigos

… vou ser breve. É uma grande alegria estar aqui com vocês, tentando tomar pé numa situação que é nova. Até onde sei, há tempos que não aconteciam reuniões como esta, o que torna o prazer maior ainda. Há uma frase de Brecht, acho que no Galileu, que diz que a liberdade é como um cachorro: basta alguém dizer o nome dela, que ela vem pulando.

Como muitos aqui, não tenho opinião formada sobre o rumo que as coisas vão tomar. Não sei se o transporte público, a educação e a saúde – para ficar nas calamidades mais citadas – vão melhorar, nem sei quem vai ser o beneficiário dos protestos. Será o PT, o PSDB, o PMDB, o PSB etc., ou um movimento novo, ou, ainda, um aventureiro? Muita coisa pode acontecer, inclusive nada, e neste sentido devemos estar preparados para resultados decepcionantes. Entretanto, seja como for, para nós artistas e intelectuais é fato que algo de importante ocorreu e que a nossa situação mudou. Essa em todo caso é a minha impressão, mas naturalmente posso estar enganado.

Foi tudo muito rápido. Em duas semanas, o Brasil que diziam que havia dado certo, que derrubou a inflação, que incluiu os excluídos, que está acabando com a pobreza extrema, que é um exemplo internacional, foi substituído por outro país muito pior, em que o transporte popular, a educação e a saúde são um desastre, em que a classe política é uma vergonha, sem falar na corrupção. Qual das duas versões estará certa? É claro que todos esses defeitos já existiam antes, mas eles não pareciam o principal; e é claro que aqueles méritos do Brasil novo continuam a existir agora, mas parece que já não dão a tônica. A viravolta, que foi impressionante, com certeza teve um lado midiático, de propaganda eleitoral, visando 2014. Ainda assim, ela é histórica, e vai fazer diferença, particularmente no âmbito da cultura. O espírito crítico, que esteve fora de moda, para não dizer excluído da pauta, tem agora a oportunidade de renascer.

Salvo engano meu, o nosso espírito crítico foi posto para dormir há mais ou menos 20 anos, no começo da década de 90, quando o Brasil entrou para a era da globalização e tomou conhecimento da nova hegemonia do capital, muito mais completa do que tudo que se havia visto anteriormente. Não que durante esse período não houvesse artistas ou intelectuais inconformistas, tentando dar forma artística ou conceitual à sua insatisfação, à sua percepção de que as coisas não são o que parecem. Mas a crítica não encontrava ressonância e ficava parecendo como que ranhetice ou má vontade isolada, pessoal, coisa de gerações antigas. Na época, explicando que não cabia chamar seu governo de neoliberal, Fernando Henrique Cardoso dizia que, ideologias à parte, ele simplesmente fazia o necessário para adaptar o Brasil à ordem da globalização, para a qual não havia alternativa. Em inglês, TINA, as iniciais de there is no alternative. O que se opusesse a isso seria “nhenhenhém” ou “fracassomania”, vocês se recordam dessas expressões dele, que buscavam ironizar os pontos de vista contrários. A bem da verdade, é preciso reconhecer aliás que essa ironia funcionava, pois diante do gigantismo da nova ordem mundial e das perspectivas que ela abria, a resistência crítica parecia mesmo um pouco anêmica, sem pé no curso real das coisas. E ainda a bem da verdade, é preciso reconhecer também que os governos Lula e Dilma, embora com mais acento social, não diferiam de Fernando Henrique nesse ponto, na visão cor de rosa do capitalismo, que seria a grande solução, e não um tremendo problema por sua vez.

Enfim, para retomar tudo isso num plano mais genérico e menos pessoal, digamos que o Brasil passou 20 anos imerso no otimismo quanto à nova ordem capitalista, a qual de fato lhe permitiu avançar muito, ao mesmo tempo que criava problemas imensos, aqui e mundo afora. A cegueira para estas contradições, alimentada pela ideologia marqueteira oficial, pesava como um tapa-olho sobre a inteligência do País, que perdeu contato com o avesso das coisas, sem o qual não existe vida do espírito. Pois bem, a energia dos protestos recentes, de cuja dimensão popular ainda sabemos pouco, suspendeu o véu e reequilibrou o jogo. Talvez ela devolva à nossa cultura o senso da realidade e o nervo crítico, sem falar no humor, que nos seus momentos altos esta sempre teve.Ver mais

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

1 COMENTÁRIO

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