CALUMBI

foto: orlando telles
igreja de calumbi

acordei hoje com vontade de ligar para calumbi.
eu teria ido para lá ontem se eu trabalhasse em política.
eu teria ido mesmo que não me mandassem.
foi o lugar onde dilma rousseff, eleita presidente do brasil, teve sua maior votação, 97% dos votos.
eu olhei no mapa.
fica entre betânia e triunfo.
fica perto de cidades com nomes fantásticos, nomes dignos da prosa de um vargas llosa ou garcía marquez, como afogados da ingazeira.
o rio pajeú é que margeia a cidade.
calumbi é nome de um arbusto que aparece ao longo das margens do rio.

procurei por números de telefone da cidade. a prefeitura não atendeu.
liguei para o posto de gasolina.
atendeu alisson wellington de souza marinho, 17 anos.
ele nasceu em serra talhada, pernambuco, onde nasceu também virgolino ferreira, o lampião.
o frentista joga futebol de salão, é fã de rivaldo (como fred zero quatro, que o homenageou na canção Meu Esquema).

o movimento tava fraco, wellington gostou de conversar.
ele votou em dilma, e sua irmã votou em dilma, e o pai e a mãe também.
ele só conhece um sujeito que não votou em dilma.
“ele sabia que não ia ganhar, votou só para aparecer. aqui todo mundo já sabia que ela ia ganhar”.
wellington calcula que haja uns 5 mil votantes em calumbi.
eu iria procurar um dos que não votaram na mulher, tenho grande curiosidade (seriam uns 150, certo?).

não tem boate na cidade, só barzinho.
a cidade mudou de nome em 1938, antes se chamava são serafim.
é a terra do artista popular cícero cordeiro, que toca pífano lindamente, dizem.
região bonita e tranquila, onde lampião vingou o pai e virou lenda.
wellington vai passar o dia todo no posto de gasolina, esperando automóveis com sede em rota para salgueiro e adjacências.
“espero que o governo dela seja bom como o de lula. o dele foi bom para pernambuco, foi bom para calumbi. eu vi as coisas melhorando”.

se eu estivesse hoje em calumbi, tiraria a tarde para dormir na rede.