Era tão caricatural que virou piada, mas é preciso ressaltar que era uma piada infame, perigosa.
Começou a assustar os telespectadores ainda em Londrina, na antiga TV Tropical, Canal 7, cujos modestos estúdios ficavam ao lado da universidade. A gente estudava Semiótica ali do lado e o cara lecionava Psicótica uma quadra adiante.

Para o mal e para o mal, Luiz Carlos “Cadeia” Alborghetti inventou o inflamado estilo do apresentador que babava nos microfones, cão raivoso solto num estúdio de TV, olhando com olhos vermelhos por cima dos óculos. Havia grades de cela no cenário de seu programa. Ele grunhia, batia com o cassetete na mesa, pedia para a polícia deixá-lo empalar os inimigos com o cassetete, atacava os próprios cameramen, recebia humildes para distribuir dentaduras, cadeiras de rodas, promessas vãs. Incitava a linchamentos.

Quando o empresário curitibano Batatinha criou uma rede de TV que tinha como meta a competição com a Globo (segundo dizem, como testa-de-ferro do esquema PC Farias-Collor de Mello), Alborghetti foi levado para Curitiba, onde passou a trabalhar na recém-criada rede CNT. O seu mais próximo assistente era um bigodudo troncudo chamado Carlos Massa, apelido Ratinho. Massa era um faz-tudo do programa, chegava a dirigir o carro de Alborghetti e eventualmente o substituía.
Cacareco da TV, “Cadeia” virou deputado – a piada da telinha virava piada da política.

Quando a CNT se aliou à TV Gazeta, em São Paulo, seu programa se tornou nacional e passou a encostar nos 10 pontos de audiência, uma marca histórica para a Gazeta.
Acontece que Alborghetti ficou fora de controle. Chamou os governadores Fleury e Covas de “bundas-moles” no ar. Covas reagiu, pediu sua cabeça – caso contrário, arrasaria com a TV com a estratégia de minguar a publicidade oficial. Alborghetti foi tirado do ar e começou o seu declínio. O discípulo mais próximo, Ratinho, tinha os próprios planos para a posteridade. Alborghetti chegou a acusá-lo de puxar o seu tapete.

De uma certa maneira, César Tralli, Marcelo Rezende, Datena, Ratinho, todo esse pessoal é filhote do Cadeia. O Cidade Alerta e o Brasil Urgente são filhotes do Cadeia. Era um palhaço mais assustador do que o Coringa de Heath Ledger.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

6 COMENTÁRIOS

  1. Sem querer defender o Covas (governador abaixo da média, todavia melhor que Alkmin e Serra – juntos), mas pelo menos ele dava a cara pra bater, não era fujão, não era amarelão.
    Frank

  2. O César Tralli segue o estilo do Cadeia? Será que você não se equivocou? Sempre vi o César fazendo reportagens sérias para a Rede Globo. Inclusive foi correspondente em Londres por muitos anos. Me corrija se eu estiver errada.

    Ana Paula

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