repare só a estranha simetria entre dois causos de que tomo conhecimento por intermédio do boletim jornalístico-musical music news.

o primeiro trata de um anúncio da “gigante” mundial warner bros., publicado, diga-se, no dia da posse do novo presidente do mundo, ops, dos estados unidos da américa.

o conglomerado wb é aquele que governava a madonna e co-produziu o (a meu ver sensacional, apesar de hollywoodiano) filme “o curioso caso de benjamin button”, este em que o imaculado brad pitt nasce velho e morre bebê (e no meio do caminho vira dono de um império construído a partir de uma fábrica de botões), enquanto a imaculada cate blanchett nasce bebê e morre velhinha (como grande parte dos mortais, não custa esclarecer).

e foi esse conglomerado dos botões, ops, do entretenimento, que ontem anunciou que vai demitir algo como 800 funcionários around the world, equivalentes a cerca de 10% do operariado planetário da fábrica multinacional de filmes, discos e sonhos edulcorados.

pois então, olha só o teor do texto do chefão barry meyer, que segundo a agência de, er, notícias reuters foi enviado por e-mail a todas as sucursais da fábrica no mundo:

“É com muito pesar que anunciamos que, baseados na situação econômica global e nas previsões para os negócios, o estúdio terá de fazer uma redução de pessoal nas próximas semanas como uma medida de controle de custos”.

“com muito pesar”, ouviu?, e com a, er, promessa de que, “nas próximas semanas”, como segue o comunicado, “informações específicas a respeito das medidas de corte de custos, incluindo redução de pessoal, serão compartilhadas com vocês através do gerente de cada equipe”.

é possível fazer algum eufemismo ou isso é sadismo explícito?

eu aposto na segunda hipótese, naqueles rituais sadomasoquistas como demitir funcionários na última semana de dezembro, tipo “presente” de natal. atitude dark de banda punk de new metal thrash no auge do emo gótico e electro, não?

mas aí, por outro lado, há uma engraçadíssima entrevista do célebre trent reznor, líder do conglomerado, ops, da banda nine inch nails, de rock metal industrial dance alternativo pré-pós-tudo-bossa-band. você sabe, o trent deu um chapéu na indústria fonográfica e diz que está fazendo tudo sozinho, tudo do it yourself, yes he-we can.

(menino!, e a cobertura mega-ideológica da “nossa” imprensa à posse do homem? determinado jornal paulista simplesmente nem se referiu, em seus textos principais, à frase – para mim crucial – de que “o mundo mudou, e precisamos mudar com ele”! pô, justamente a frase e o trecho que, acredito, embutem nossa américa latina e nosso brasil?! pô!)

pois bem, o trent deu uma entrevista a um veículo independente de imprensa em sacramento, sacramento news & review, que o music news indicou na versão em português do portal rock press. dá só uma espiada em alguns trechos.

“Meu nível de desprezo para com a indústria musical nunca foi maior. Com certeza estou feliz por trabalhar fora do sistema, pois ele está obviamente acabado…”

(hello, mr. benjamin button, quero dizer, mr. barack obama! “acabado”, será mesmo?)

“Nos anos 90, a indústria musical continuava a cair. Eles só falavam merda. Não se importam com a música; eles só se importam em vender discos e pronto.”

“Estar livre de toda essa droga é muito bom, mas aterrorizante, pois é muito fácil enxergar o que não se deve fazer. Só olhe para o que eles estão fazendo! Estão processando fãs (…).”

“Se você perguntar para a maioria das pessoas nas gravadoras, se elas passam algum tempo online – ou se elas sabem o que é torrent, ou se conhecem o Twitter – a responta é geralmente negativa. Então como eles esperam entender se não procuram? Se não pensam a respeito disso? Se não sabem que seus consumidores sequer existem ou como interagem? Isso é parte do motivo do negócio ter sido destruído. (…) Estão presos na idéia de que podem fazer dinheiro vendendo plástico. Então, o que fizemos foi tirar vantagem dessa liberdade (…) e nos colocarmos num lugar onde podemos interagir diretamente com os fãs, onde podemos surfar e fazê-los sentirem que estão tendo o que querem de nós. Tentamos tratá-los com respeito… o que as gravadoras não fazem.”

e só isso já bastaria, mas ainda tem o final hilário da entrevista, em que o músico e a repórter, chamada alia cruz (ou seria um repórter?, alia é nome de mulher?), dão um banho de ironia e de informação não-censurada (daquelas que dificilmente leríamos num jornalão), tal qual fosse uma conversa privada entre dois altos executivos de uma fábrica de botões, quer dizer, de jornais, ou melhor, de discos de plástico. ó (repórter em negritos, entrevistador em tipos regulares):

Quando Closure sai em DVD?

Nunca!

O que?!

Você pode perguntar a Universal, pois eles são idiotas, e estão com medo de lançar.
Pessoas estão se morrendo por isso.

Sim, mas… existe outro meio.

Estou ouvindo. Há uns anos, alguém invadiu meus arquivos pessoais e fez um upload de todo o DVD Closure num site torrent.

Ah, que terrível.

Pois é, não sei quem poderia ter feito isso.

Hmm.

Então, isso significa que não precisa ser lançado em DVD.

Desculpe Trent, vou ter que roubar uma cópia.

Ah, você sabe que isso não é legal”.

ora, ora. vai ver que toda essa embolada, esse samba, esse maracatu significa que the times they are a-changing, que tá tudo mudando. não foi o que disse o novo presidente do mundo, opa, do brasil, epa, dos eua, que o mundo mudou, e precisamos mudar com ele? cê tá escutando?, cê tá entendendo?

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