não tenho ídolos, falhei nesse quesito.
mas gosto bastante de alguns sujeitos.
lou reed é um desses caras.
discordo profundamente de muito do que ele diz, mas não tem o menor problema: gosto dele assim mesmo.
por exemplo,olha o que ele disse:
1. “iggy pop é muito estúpido. muito doce, mas muito estúpido”.
2. “(the doors) era lixo de los angeles. lixo pretensioso. e jim morrison era um babaca. não fazia mais do que reciclar letras do blues. se fazia passar por deus sexual”.
lou reed é foda. faz sempre questão de ser intratável, rude.
em sua última passagem pelo brasil, foi “um monstro” de indelicadeza e grosseria, segundo me contou uma produtora. além de tratar mal todo mundo, acordou uma equipe inteira do seu hotel às 3 da madrugada. motivo: queria que tirassem imediatamente uma mesa de mármore do seu quarto. quando os desafortunados chegaram, ele os obrigou a fazer uma mudança em todos os móveis do lugar.
contam que ele também detestava a sua tradutora e exigia que ela andasse bem longe dele, sempre a alguns passos de distância, como uma mulher muçulmana.
tornou-se lendário o encontro entre lou reed e lester bangs, o crítico mais imitado do rock.
bangs passou uma noite inteira com reed, tentando convencê-lo de que estava decadente e que se tornara apenas “uma imitação ruim de tennessee williams”.
simon hattenstone, do the guardian, detalhou em uma página inteira de jornal seu fracasso em tentar estabelecer um diálogo com lou reed.
“reed faz com que eu me sinta uma ameba”, escreveu hattenstone.
não vejo problema de gostar de alguém de quem se discorda profundamente.
não gosto é de quem tem opiniões previsíveis, pré-fabricadas.
tipo o cara que defende que israel mate mais de 200 crianças apenas para manter a coerência de sua posição pró-israel. ou porque pressupõe que ser de direita hoje em dia implica em ser truculento, burro e sanguinolento.
tipo o imbecil que acha que o jornalismo estandartizado, a comida fast-food e o político autoritário são sintomas inequívocos dos avanços civilizacionais.
daí que prefiro não partilhar uma mesa de bar com esses caras.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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