“e então, qual é teu grande plano para esse ano?”
eu não soube o que responder.
se a pergunta fosse mais fechada, tipo “qual é o grande plano para hoje?”…
ok, confesso: ainda assim eu não saberia responder ao certo.
tenho apenas um plano muito antigo anotado no caderninho: eu quero ir ao mali um dia.
quero ir ao estúdio de terracota que ali farka touré construiu em bamako.
quero encontrar algum dos filhos de amadou & mariam.
comprar estatuetas de ébano de camelôs na beira da estrada.

meu plano perpétuo: evitar ao máximo gente escrota.
especialmente gente que pensa com a cabeça do dono.
farto dessa ralé.

decisões?
1. ficar menos enfezado no trânsito.
2. rejeitar provocações dos medíocres.
3. ignorar a opinião de medíocres de convicções assalariadas.
4. fingir que não vi a última novidade tecnológica.
5. fugir do noticiário sobre gisele, luana, suzana, adriane e congêneres.
6. mais paciência, menos pressa
7. não bater boca com sãopaulinos nem corintianos nem gremistas em bar

no mais, não acredito em planejamento, nunca acreditei.
nos últimos dias do ano, andei perseguindo gente pelo sul da bahia, e foi uma viagem inesperada (fiquei sabendo que iria um dia antes, quase que não dá tempo de fazer a mala).
se eu tivesse planejado, acho que não teria rolado.
de salvador a itacaré, de carro, dá uns 500 quilômetros.
depois de rodar uns 400 quilômetros debaixo de chuva, o motorista se enfiou numa estrada de terra chamada taboquinhas.
prometia que faríamos 150 km em 50.
votamos e o buraco venceu.
mergulhamos numa sucessão de pedras e valas, uma paisagem incerta e composta de flashes esparsos, paisagem emoldurada por luzes que escapavam da escuridão: homens cavalgando burricos (jogando fachos de lanterna a pilha no breu), fachadas de casinhas rústicas muito bem pintadas, encruzilhadas tortuosas, estreitas, e ainda rios e pontes sem amuradas.
foi a viagem formidável do ano, hipnótica, doida.
e desconfortável.
quero refazê-la, dessa vez em um tanque de guerra.

2009 tem pinta de ser aquele ano em que muita barbárie será cometida em nome da eficiência e da parcimônia.
tem pinta de que irá repetir tempos obscurantistas (quando a pequena autoridade, mais realista que o rei, legislava sobre a terra e barbarizava em nome do futuro de todos)

e visitar meu pai, beijar a cabeça forrada de cabelos brancos de 91 anos do meu pai.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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