Metendo de novo a colher na panela suja da política paulistana.
“A quem serve a briga Kassab-Alckmin?”, perguntam os Órgãos Oficiais do Partido, querendo mostrar-se preocupados com a “limpeza” da eleição.
Santa ingenuidade! Não se trata de “briga”, mas do futuro político desses dois personagens. Aquele que não chegar ao segundo turno pode pendurar a chuteira – especialmente se for o ex-governador, que já foi até candidato a presidente da República com apoios irrestritos, e perdeu de lavada. Kassab ainda pode viver alguns anos como presidente do Centrão na Câmara de Vereadores (mas só daqui a 4 anos).
Quem conhece um pouco de pesquisa sabe que as intenções de voto para Marta, Alckmin e Kassab têm perfis bem definidos.
Marta e Alckmin têm aquilo que se chama de “voto sedimentado” – ou seja: seus eleitores têm alguma convicção e motivos para votarem neles. Alckmin tem mesmo aqueles 20% (e não 27 ou 28%). Estava caindo porque uma parcela do seu eleitorado fôra seduzida pelo atual prefeito.
Kassab é o fenômeno publicitário gestado a partir de um coquetel de mídia, começando por uma inserção absurda de comerciais na TV (além do uso da máquina, é claro; ou não é uso da máquina a multiplicação de canteiros novos ajardinados nos cruzamentos das ruas de São Paulo? ou não é uso da máquina convocar funcionários públicos para interferir em pesquisas eleitorais?).
A intenção de voto em Kassab é instável e migratória, como a fidelidade a um novo sabão em pó – tanto é que Alckmin conseguiu deter seu avanço.
Mas quem é que os Órgãos Oficiais do Partido preferem?
Preferem Kassab, é óbvio. É dócil, servil, bobo e não parece ter pretensão política. Apenas faz o que lhe mandam. O sonho de todo político manipulador.
Ninguém prestou atenção, mas diretores de institutos de pesquisa consideram que Alckmin tem até maiores chances de chegar ao segundo turno – e fatores técnicos, como o desconhecimento no número de urna de Kassab, podem ajudar Mr. Chuchu com um ou dois pontos fundamentais. Seria uma vitória aos 44 do segundo tempo.
Se Alckmin passar, dá sobrevida a seu capital político. Terão de negociar com ele, e não o contrário. Porque ele tem lá suas chances contra Marta, e será a grande pedra no sapato de Mr. Burns.
Definir isso que está acontecendo apenas como “briga” é como alguém gostaria que ficasse estigmatizado esse embate. Dá uma noção de infantilização da contenda. Na realidade, os dois dão suas últimas cartadas. Kassab que fique esperto, porque se não bater de volta, não passa.
Da minha parte, estou interessadíssimo nessa “briga”, porque é daí que saem as informações sobre os jogos subterrâneos do poder na cidade. “Cavalheirismo” aqui me cheira a acordão.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

1 COMENTÁRIO

  1. É um fenômeno comum, este de despolitizar a política. Volta e meia ouço alguém dizer que o político x “não gosta” do político y, como se tudo se resumisse a uma questão de afinidades pessoais. Vejo da mesma maneira essas campanhas que se pautam antes de tudo pelo slogan, “sou honesto, vote em mim”. Pra mim é como se eu lançasse uma campanha dizendo: “eu não faço xixi fora do vazo, vote em mim!” E se o cara for honesto e quase-fascista? Honesto e incapaz? Serve também? Quer dizer que se o Maluf fosse mais honesto e o Bush menos brigão, tudo limpo?

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