há divergências sobre o ano, mas é provável que fosse 1973.
o fotógrafo certamente era o japonês da ótica.
os que estão sentados nas cadeiras são os pais, eulina e joão.
eulina morreu pouco depois dessa foto.
joão, que usava jeans US Top nesse dia, nunca mais se casou, mas há relatos de que teve pelo menos uma grande paixão.
joãozinho largou a escola por algum tempo.
salete foi para curitiba abrir uma boutique.
sueli vive entre dois mundos, Brasil & Japão.
sonia ainda faz o melhor pavê do Sistema Solar.
eliane tem um café muito charmoso que serve irish coffee onde os outros servem rabo-de-galo.
sandrão e lucinha vivem em madri.
neide e dinha sempre serão deslumbrantemente belas.
gorete é um doce, mas vive escondendo aquilo que sente.
a casa da selma parece um hotel, sempre abrigando nossos exilados.
jack dá um boi para não entrar numa briga, mas dá uma boiada para não sair dela.
help cuidou de todo mundo, mesmo dos que não queriam ser cuidados.
marcelo chegou por último, e fez o seu caminho sozinho e na raça (é bom na sinuca, mas essa semana eu tava com sorte).
dinha, no centro de cabelo black power, adoraria que a vida inteira fosse um grande salão de baile.
célia viveu no fio da navalha, e hoje está muito doente (mas ainda se preocupa em saber se os outros estamos bem).
os que não estão identificados são netos e genros (tenho a impressão que todos adoraram ser da família, porque nenhuma festa é chata ou modorrenta)
duas coisas das quais não tenho saudades:
a) quando você tem 14 irmãos, a maior parte das noites da infância terá se passado em um beliche;
b) muitas vezes, também haveria sacos de cereais na cabeceira da cama (o quarto dividido por quatro podia servir de vez em quando como despensa auxiliar);
todo o resto é saudade, do abacate batido no café da manhã à espingarda de pressão escondida no forro do telhado.

publicado originalmente em 14 de abril de 2008

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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