a garota é doida por praia desde nenem.

fica feliz com praia mesmo depois de enfrentar 30 quilômetros de engarrafamento no pedágio.

pega o rumo da praia mesmo quando é só ensaio de feriado.

mas ela acaba de chegar da praia e está vermelha, e dessa vez não está feliz.

a garota anda desconfiando do sol.

ela demonstra mais desconfiança no sol agora do que as pessoas têm desconfiado da imprensa ultimamente.

“muito forte, muito estranho esse sol”, ela me diz. “não tem mais inverno, não tem mais verão. é só esse sol forte, e esse ar parado na cidade. tudo vai acabar, velho, tudo vai acabar”.

é verdade, eu penso.

mas tento confortá-la, falo das frutas que plantamos, e dos pés de laranja, e da ameixeira carregada.

muito neguinho (especialmente aqueles neomilitantes do espectro político que acham bonito se postar à direita de átila, o huno) acha isso paranóia, besteira.

querem ver o mundo acabar em merda.

not me, amigos. not me.

acho passarinho bonito, gosto de gato & de cão, tenho prazer em acordar lá no meio do mato.
penso numa nascente que tem numa chácara vizinha meio largada lá em ibiúna, e no meu velho plano de recuperá-la e replantar vegetação nativa ali.

mas a chácara custa cascalho, que não tenho.

assusta-me a idéia de que a conspiração pagodeira compre o terreno e faça uma fossa de bloco de concreto no lugar do rio.

é uma nascente, é coisa vital para a sobrevivência.

e ouso mesmo dizer que os rios mortos de são paulo podem reviver um dia.

não serão como os canais de copenhague, mas poderão fluir como o sena, quem sabe?

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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