‘A Tropa’, com Otávio Augusto, em duas únicas apresentações

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Cena de "A Tropa", no Teatro Estúdio, com o ator Otavio Augusto
Cena de "A Tropa", no Teatro Estúdio, com o ator Otavio Augusto - Foto: Elisa Mendes/ Divulgação

A comédia dramática A Tropa entrou em cartaz em 2015, e a cada ano que passa o texto de Gustavo Pinheiro se torna mais emblemático do momento atual. Em duas apresentações em São Paulo, no Teatro Estúdio, o ator Otavio Augusto faz as vezes de um moribundo coronel que recebe a visita de seus quatro filhos. O ator global já participou de mais de 90 peças, 70 filmes (incluindo Central do Brasil, em 1998) e 100 trabalhos em televisão, incluindo as novelas Tieta (1989) e Vamp (1991).  Com seis décadas de teatro, ele participou de O Rei da Vela (1967), do Teatro Oficina, e a montagem original de A Ópera do Malandro (1978), de Chico Buarque.

Internado em um hospital, Otavio Augusto vive o papel do pai que se vê preso a um reencontro carregado de mágoas e lembranças do passado. O ex-militar teria contas a prestar com a sociedade, por sua participação na ditadura civil-militar no Brasil, mas sua tacanhez – de espírito e de vida –  mostra o quão difícil é ser julgado até mesmo pelos próprios filhos. Pense em Zero Um a Zero Quatro, e talvez a peça A Tropa ganhe um outro sentido nos dias atuais. Confinados no quarto hospitalar, os personagens vão se revelando, um a um, o que abre espaço para que o espectador enxergue como pensa e opera o lado conservador da sociedade. Não há limites, tolerância, empatia ou compaixão entre eles, mas se sobressaem o ódio,  o compadrio e a alienação para com o outro.

Humberto (Alexandre Menezes) interpreta um dentista militar também aposentado que cuida do pai, e vive com ele. Artur (Alexandre Galindo) é um executivo de uma empreiteira investida por corrupção. Ernesto (André Rosa) é um jornalista que quer mesmo ser cineasta. Já João Batista (Daniel Marano), o caçula, é usuário de drogas. O pai demonstra afeto para com os filhos, mas jamais se permite descer do pedestal da hierarquia e da autoridade em que se colocou. As mentiras parecem fazer parte da tradição familiar. Já os filhos são resultado desse tipo de (des)educação que receberam. Reminiscências da mãe surgem, sempre como lembranças ternas, mas incapazes de fazerem frente ao ímpeto autoritário do pai.

A Tropa já viajou por oito cidades brasileiras e arrebanhou mais de 10 mil espectadores. A trama perpassa a história do Brasil das últimas cinco décadas – FAROFAFÁ assistiu a peça no Teatro Leblon, no Rio, às vésperas da eleição de 2022. Viúvo, o personagem de Otavio Augusto demonstra certo carisma, o que faz o público se simpatizar, até a página dois, com o coronel ranzinza. E é nisso que reside a força da montagem: a peça tem a força de dialogar com um público que o teatro político jamais alcançou ou alcançará. Nesses momentos de ódios exacerbados, tentar compreender o outro pode ser o primeiro caminho para buscar algum tipo de distensão.

A Tropa. No Teatro Estúdio (Rua Conselheiro Nébias, 891, Campos Elíseos), nos dias 24 (às 20 horas) e 25 de agosto (17). Ingressos no Sympla a partir de 45 reais
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