Há uma urgência evidente na peça Realpolitik. Ela gira em torno de um acerto de contas que se imagina verossímil num mundo dominado por inescrupulosas corporações. Tem horas que parece que a Justiça só será possível se for feita pelas próprias mãos. Em cena, dois homens brancos, um CEO de uma mineradora responsável por um grande acidente ambiental e um jornalista que cobre assuntos econômicos, expõem as vísceras do capitalismo predador.
A peça estreou em 2022, no Rio, e cumpre temporada no Teatro B32, em São Paulo. Baseado no texto de Daniela Pereira de Carvalho e direção de Guilherme Leme Garcia, Realpolitk é um thriller que, como tal, possui os elementos necessários de tensão, ritmo rápido e conflitos latentes. Os personagens são ambíguos, e cada um defende o seu lado, a sua visão de mundo.
Pedro Osório interpreta o CEO da MBS, ou Mineradora Brasileira do Sudeste. Com a arrogância e a insensibilidade típica de um executivo, ele imagina que vai ser entrevistado por um jornalista (Augusto Zacchi) disposto a encarnar o papel que se espera dele: um profissional domesticado a falar bem da empresa, apesar do recente rompimento de uma barragem que matou 150 trabalhadores. Mas as coisas não vão transcorrer como ele imaginava.
Numa pequena sala improvisada do Teatro B32 (onde fica a baleia metálica, símbolo da nova sede do Facebook no Brasil), que muito se assemelha com os típicos espaços em que entrevistas transcorrem quando a pauta não é bem desejada, Realpolitk tem interpretações naturalistas, talvez até demais para quem procura desanuviar numa ida ao teatro.
Mas será que as grandes questões humanas sendo decididas por uma meia dúzia de homens cis brancos não merecem ser colocadas no banco dos réus, que é o propósito de fundo de Realpolitik? Difícil não sair do teatro pensando que no mesmo prédio e na mesma região repleta de farialimers em que a peça é apresentada pequenos grandes crimes ambientais (ou não) estejam ocorrendo sem que as pessoas se dêem conta. Vale a reflexão.
Realpolitik. De Daniela Pereira de Carvalho. No Teatro B32. Até 28 de julho. Ingressos a 50 reais.