Em Copo Vazio, adaptação teatral do romance homônimo de Natalia Timerman, dois personagens contracenam no palco, Mirella (Carolina Haddad) e Pedro (Vinicius Neri), com a primeira como protagonista decidida a contar sua história. É sobre o curto, mas intenso relacionamento entre os dois, que termina pelo desaparecimento dele, subitamente, sem maiores explicações. “Ghosting” é o termo (em inglês) apropriado para essa perturbadora atitude, cada vez mais comum na atualidade.
Não é preciso ser vidente para saber que a peça será um mergulho em temas como abandono, solidão, amor, empatia e relacionamentos. E o fará na perspectiva de Mirella, que naturalmente enxerga um meio copo vazio em sua vida. Foi essa a forma encontrada pela autora do livro, que foi finalista do prêmio Jabuti em 2022. Psiquiatra e psicoterapeuta, Natalia Timerman usa de sua experiência na área de saúde mental para mostrar a jornada de luto e superação enfrentada pela protagonista.
Sob direção Bruno Perillo e dramaturgia de Angela Ribeiro, a montagem tem a difícil tarefa de apresentar também a perspectiva do meio copo cheio. No palco, os atores Carolina e Vinicius interpretam a si mesmos prestes a incorporarem os personagens Mirella e Pedro e contar como se desenvolveu a história. Nesse duplo jogo cênico, o espectador vê Pedro, mas a voz dele é pouco ou quase nada ouvida, mantendo sempre a perspectiva do texto original, a de Mirella. Embora pudesse dar as respostas esperadas, “Pedro continua sendo Pedro” na maioria das cenas. Não daria para ir mais longe, mas deixa questões no ar.
A peça Copo Vazio vai e volta em momentos distintos da vida dos personagens, com alguns grandes saltos temporais. No palco, os atores criam a atmosfera necessária que vai do ápice à derrocada do relacionamento, o que fará com que muitos se identifiquem com essa história. É importante ressaltar que oferecerá também gatilhos emocionais por quem vivenciou essa situação. Às vezes, como faz Mirella, é preciso enfrentar essa dor, mesmo que as cicatrizes ainda estejam visíveis.