ALELUIA

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Leonard Cohen liberou no seu site, para todos que quiserem ouvir, sua nova obra-prima, Popular Problems. Candidato a disco do ano, em minha opinião


Dois anos após o fenomenal Old Ideas, está disponível para quem quiser ouvir, na internet, o novo disco de Leonard Cohen, Popular Problems, no site do cantor canadense.Tem uma mensagem lá: “Deseje a Leonard Cohen um feliz aniversário de 80 anos e ouça o novo álbum dele, Popular Problems”.
O poeta completa 80 anos neste domingo, mas quem ganhou um presentaço fomos nós. Popular Problems é um disco magnífico, outra obra-prima do bardo. É produzido por Patrick Leonard, que também trabalhara com Cohen no álbum anterior (e produziu discos de Madonna, como True Blue e Ray of Light). Abre com um blues de primeira, Slow.
Já na terceira música, Samsom in New Orleans, Cohen oferece sua prece de costume, com um violino doloridíssimo cortando a canção de alto a baixo. É sua ode à batalha pela sobrevivência em New Orleans nos momentos que marcaram a passagem do Furação Katrina, na qual ele canta: “E nós os que gritamos por piedade no olho do furacão/Seria nossa oração tão ordinariamente indigna que o Sol a rejeitou?”.
Órgão e coro sustentam A Street. São corais fantasmagóricos e a voz gravíssima de Cohen (por vezes de uma rouquidão crepuscular) tinge as músicas de solenidade e poesia inefável.
Did I Ever Love You começa ao estilo puro Tom Waits, anunciando-se uma das mais bonitas canções que surgiram no horizonte desde muito tempo. Daí quebra para um country de roça, sem a voz de Leonard, apenas um coro feminino. E o violino de volta. É um toque meio modernizante, meio clássico ao mesmo tempo, que perpassa todo o álbum.

My Oh My tem um slide agoniado de guitarra, um acento de soul sulista. Nevermind se sustenta numa batida funk imponderável, que é bombada por piano elétrico e de novo os celestiais vocais femininos de apoio – dessa vez em árabe. São nove canções, nenhuma com excessos ou lacunas. Tudo exato, perfeito.
Born in Chains é mais falada do que cantada, e a percussão que a embala é também quebradiça, atravessada pelo órgão e os coros. Parece que uma aura meio espiritual banha cada verso, cada lamento do velho bardo. O oposto da auto-ajuda.
You got Me Singing, que fecha o álbum, também está embebida do mesmo tempero country, que é o elemento mais comum a todo o lote de canções. Nenhuma música é vulgar, nenhum acorde, nenhuma inflexão vocal. Só que, nesse final, o toque é mais acústico, mais violão. Coisa linda.
Leonard Cohen, no fio dos seus 80 anos, sustenta com grande leveza e presença de espírito o título de grande mestre da poesia cantada universal, como Lou Reed e Dylan, seus únicos equivalentes. Quase todo mundo relevante, de Johnny Cash a R.E.M., de Jeff Buckley a Nina Simone, de Nick Cave a Pixies, gravou alguma música sua ou sofreu sua influência. Embora nunca tenha se casado, ele viveu com mulheres famosas, como Joni Mitchell e a atriz Rebecca De Mornay. O relacionamento mais longo foi com Suzanne Elrod, mãe de seus dois filhos. Ele também foi alcoólatra e andou por diferentes drogas. Dedicou-se ao misticismo e religiões diversas, com uma queda mais acentuada pelo zen-budismo. 
Leonard Cohen publicou 12 livros. Este é o 13º álbum da carreira de Cohen. Números exatos, quase como velhos relógios de cordão de carregar nos bolsos dos coletes em alguma época cavalheiresca.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter desde 1986 e escritor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019), Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021) e O Último Pau de Arara (Grafatório, 2021)

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