Governo sem passado e sem futuro eleitoral, gestão Temer vai ganhando contornos de balcão de negócios e agência de turismo
No 1º de maio, Dia do Trabalho, o ministro da Cultura do governo Temer, Sérgio Sá Leitão, viajou para Lisboa. Teria um encontro no dia 2 com o embaixador do Brasil em Lisboa, Luiz Alberto Figueiredo Machado. Evidentemente, para conversar com Machado, Leitão só precisaria pegar o telefone, não era necessário ir a Lisboa. Mas aconteceu o inesperado: mesmo com um ministro de Estado batendo na porta, Machado cancelou a reunião. Já que estava mesmo em Lisboa, Leitão então resolveu reservar para si os dias 3 e 4 sob a alegação de “licença para assuntos particulares”.
Leitão viajou para o Exterior ainda sem a devida autorização publicada no Diário Oficial da União (DOU), o que é estranho. Houve tempo suficiente para isso. Somente nesta sexta, após a viagem, saíram as autorizações. Os dias 1 e 2 de maio foram pagos pelos cofres públicos, enquanto os 3 e 4, aqueles reservados para “tratar de assuntos particulares”, foram sem custo para o Estado.
Segundo a assessoria de Comunicação do Ministério da Cultura, Sá Leitão foi a Lisboa para participar do Encontro Anual Global Horasis, em Cascais, Portugal. Chegou 4 dias antes. Horasis é uma think tank corporativa suíça que reúne “grupos de líderes de negócios para discutir abordagens colaborativas e articular crescimento sustentável”.
Até o dia 13, quase metade de um mês segundo o despacho no Diário Oficial, o ministro ficará na Europa. Vai a Londres, participar de reunião com o representante do World Cities Culture Forum; e a Cannes, França, participar da 71ª Edição do Festival de Cannes e de “encontros bilaterais”.
É a quarta viagem internacional de Sá Leitão em dois meses, o dobro do que o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, fez no mesmo período. Em geral, assuntos particulares mobilizam bastante o ministro. Nos dias 18 e 19 de abril, Leitão foi a Los Angeles para encontros de negócios. Mas, nos dias 20, 21, 22 e 23, fechou a barraca de novo sob a alegação de “licença para assuntos particulares”. Anteriormente, nos dias 16 e 17 de abril, a agenda registrava a mesma “licença para assuntos particulares”.
O ministério de Sá Leitão, que tem ênfase forte no audiovisual, enfrenta um problema sério na área. O Tribunal de Contas da União (TCU) recebeu uma representação contra o programa Audiovisual Gera Futuro, lançado no dia 7 de fevereiro, que vai investir R$ 80 milhões em cerca de 250 projetos. O TCU analisa pedido de medida cautelar por conta do “risco iminente de ocorrência de irregularidades e de danos ao erário resultantes de potenciais contratações derivadas do lançamento de editais” no programa.
Na segunda-feira, possivelmente em busca de apoio político no meio artístico, o ministro tinha marcado uma reunião na casa da empresária Paula Lavigne, mas foi cancelada. Paula é líder do movimento 342, uma mobilização de artistas em prol de saídas políticas para a situação brasileira e que pleiteia a destituição do governo de Michel Temer, do qual Leitão faz parte.
Consultor legislativo do Senado, o advogado Luis Alberto dos Santos tratou do tema dos “assuntos particulares” de ministros no site Congresso em Foco. Segundo Santos, tanto para ministros de Estado quanto para o próprio presidente da República, “inexiste hipótese de afastamento sem remuneração, como é o caso da ‘licença para tratar de assuntos particulares’”.
Adendo: em 5 de maio de 2018, a assessoria de comunicação do MinC enviou a FAROFAFÁ a réplica que se segue.