O cantor e compositor Ortinho se vale de um neologismo esperto para batizar seu novo álbum, o sétimo solo de sua carreira, iniciada à frente da banda Querosene Jacaré, nome importante do movimento mangueBit.
“Repensista”, o título, amalgama o repentista, figura ao mesmo tempo real e mitológica que está na raiz da música nordestina (pensar, por sua vez, está na raiz do repente, do desafio), e a capacidade de repensar, que é o exercício a que Ortinho se propõe no novo trabalho.
Quase completamente autoral e inédito, Ortinho se debruça na sonoridade do Nordeste psicodélico, celebrando nomes como o grupo Ave Sangria (o vocalista Marco Polo é seu parceiro em “Grito de uma arara”), Alceu Valença (de quem regrava “Quando eu olho para o mar”), Cátia de França, Lula Côrtes (1949-2011, parceiro de Ortinho em “As flores”, faixa de “Somos”, de 2002), Marconi Notaro (1949-2000) e Zé Ramalho.
Três faixas do álbum já haviam sido adiantadas no EP homônimo, lançado em maio do ano passado: a citada “Grito de uma arara”, “De repente Cássia Eller” (parceria com Rovilson Pascoal, que toca guitarras e violões no disco e assina a produção musical, com arranjos dele e Ortinho) e “Senhora do amor”.
A banda se completa com Ricardo Prado (baixo e sanfona) e Guilherme Kastrup (bateria). Sandoval Filho toca teclado na regravação de “Solto no tempo” (música originalmente lançada em “Somos”), um dos maiores sucessos da carreira de Ortinho – parceiro de Arnaldo Antunes em “A casa é sua”, gravada por Maria Bethânia.
Cantor de voz firme, compositor versátil e inspirado, Ortinho reafirma estas qualidades em “Repensista”, álbum em que apenas aparentemente olha para trás: em “Eu e Lia”, que fecha o álbum, homenageia a cirandeira-mor Lia de Itamaracá, como a fazer valer, de resto no álbum inteiro, a máxima do líder indígena e imortal da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak: “o futuro é ancestral”.
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Ouça “Repensista”: