
Mamãe não quero ser prefeito
Pode ser que eu seja eleito
E alguém pode querer me assassinar
(Raul Seixas, Cowboy Fora da Lei)
O profético Raulzito sempre soube: a autoridade tem o dom de catalisar ódios e rancores. Muitas vezes injustificados, mas nem sempre. Nesse momento, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, está sendo acusado pelos fãs de Raulzito de mais do que negligência cultural, mas de boicote explícito. Em um movimento de retaliação política, o prefeito está segurando emendas da oposição paulistana, e isso acabou respingando no maior evento raulseixista do País, a passeata que rola todo ano desde a morte do maior artista do rock nacional, o baiano Raul dos Santos Seixas (1945-1989).
O evento Raul Seixas é tradicionalmente realizado da seguinte forma: os fãs, muitos deles vestidos a caráter, encontram-se na frente do Theatro Municipal de São Paulo no dia 21 de agosto. Dali, caminham até a Praça da Sé, onde sempre há um palco à espera para que bandas e artistas que tocam tributos ao artista baiano façam shows. Para financiar o palco esse ano, a organização contava com uma emenda parlamentar do deputado Carlos Giannazi (PSOL-SP), mas o prefeito “trancou” a liberação das emendas – aconteceu a mesma coisa com a Flipei, a festa literária dos independentes, o que mostra uma radicalização dos extremismos políticos no âmbito do poder público paulista e paulistano.
O dia 21 de agosto é de grande simbolismo para os raulseixistas. Foi quando morreu Raul em São Paulo, e do seu velório no Anhembi nasceu uma gigantesca procissão atrás do carro de bombeiros que levava seu corpo ao aeroporto, para ser sepultado em Salvador, sua cidade natal. Essa procissão, que correu toda a Avenida 23 de Maio naquela despedida, se repete ano após ano desde então. Em 2007, foi criada a Lei Municipal nº 14.373, de autoria do vereador Carlos Giannazi, que institui o Dia para Sempre Raulzito exatamente no dia 21 de agosto, em São Paulo.
Gabriela Mousse, organizadora do Palco Raul Seixas, disse que levou o projeto do palco à secretaria de Cultura de São Paulo no começo do ano. Em maio, retomou os contatos para garantir que houvesse o show. Foram contratatadas seis bandas e haveria uma participação especial da cantora Wanderléa, grande amiga de Raulzito. Em junho, foi requisitada a emenda parlamentar que bancaria tudo, cerca de R$ 150 mil. Mas, desde então, a prefeitura interrompeu as tratativas e não libera a emenda. Também não justifica os motivos. “Isso é briga política, mas nós não temos partido, não somos partidários de ninguém”, protesta Gabriela.
O fatos de não serem partidários de ninguém é complicado.
Pede verba para um deputado do PSOL e tem a verba “segurada” prefeito do MDB.
Não se posicionar causa isso. Acabamos sendo governados porquem não está nem aí para nós.