Desde o dia primeiro deste ano, a maior metrópole da América Latina tem um novo secretário de Cultura. Assumiu este ano, com o prefeito reeleito, Ricardo Nunes, o gestor José Antônio Silva Parente, mais conhecido como Totó Parente, do MDB. Ele não é familiar à área da cultura. Ex-vereador em Cuiabá (MS), ligado em Mato Grosso ao ex-deputado federal Carlos Bezerra, é (segundo release da secretaria) formado em Marketing pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e com uma pós-graduação em Gestão Cultural e Indústria Criativa pela PUC-Rio. Totó Parente é prioritariamente um operador político e sua nomeação tem sido alvo de controvérsia, alguma contestação na Câmara de Vereadores de São Paulo e muita estupefação no setor cultural.
Totó assume secretaria que teve como última titular Aline Torres, “cria de Pirituba” que tentou se eleger vereadora por São Paulo em outubro e fracassou, descontinuando sua carreira política (nenhum dos quatro secretários do prefeito que tentaram a Câmara conseguiu eleger-se). A substituta de Torres, Ligia Jalantonio Hsu, não foi reconduzida. Mas o que Ricardo Nunes tem em mente com Totó Parente na Cultura é uma incógnita até agora. Uma das marcas da secretaria de cultura sob Ricardo Nunes tem sido o desvirtuamento da aplicação de recursos das leis federais de fomento à cultura – o governo municipal inclui, na distribuição de recursos federais (Política Nacional Aldir Blanc e Lei Paulo Gustavo), prêmios e editais de fomento à cultura que são locais, de responsabilidade das verbas municipais, terceirizando o dinheiro e tirando a possibilidade de ampliar o socorro real à área cultural. “A Prefeitura tem recursos e deve cumprir sua própria responsabilidade orçamentária”, argumentam associações de trabalhadores da cultura.
Fora isso, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa de Nunes tem como legado a tentativa de privatização das 20 casas de cultura de São Paulo, projeto barrado pelo Tribunal de Contas do Município. Também deixou de investir, em 2023, cerca de R$ 250 milhões do orçamento municipal no setor, atrasando pagamentos de artistas. Chegou a ficar 400 dias sem repassar recursos da Lei Paulo Gustavo, federal, a artistas selecionados. A extrema-direita, que fez parte da coalizão que elegeu Nunes, estava de olho na pasta e esperava inocular ali algum germe de sua estéril guerra cultural, já derrotada no plano nacional.
De Totó Parente, até agora, se sabe que já tem buscado articular junto a caciques da influência de política cultural e dizem que é amigo do escritor Fernando Morais. Foi homem de confiança da ministra Simone Tebet já neste governo Lula. Ocupou o cargo de Secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento e Orçamento entre os meses de janeiro e outubro de 2023. Antes, atuava como assessor parlamentar de Lindbergh Farias (PT). Parente também foi secretário adjunto de Comunicação Social do Governo do Estado do Rio de Janeiro em 2019 (quando ocupou o cargo Wilson Witzel, de malfadada memória, condenado pelo STF por crime de responsabilidade na gestão de contratos na área de saúde do estado). Foi membro do Conselho Administrativo do Riocentro entre 2017 e 2018 e secretário nacional de Estruturação do Turismo do Ministério do Turismo. Seu nome chegou a ser mencionado pelo delator e ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa num depoimento à Operação Lava-Jato, mas hoje se sabe que os depoimentos de Costa eram construídos sob orientação de uma força-tarefa viciada e orientada politicamente.