Cena da peça Ubu Tropical, da Tribo de Tatuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
Cena da peça Ubu Tropical, da Tribo de Tatuadores Ói Nóis Aqui Traveiz - Foto: Lacerda Flores/ Divulgação

“Quais memórias que não devem jamais ser esquecidas?”, questiona Tina Dias, atriz e curadora do FIT BH 2024, o Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, evento que começa no próximo dia 20 de junho. Certamente a memória do teatro é uma daquelas que valeria a pena empenhar todos os esforços para mantê-la. Que o diga a longeva Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, que é uma das milhares de vítimas da tragédia ambiental que atinge o Rio Grande do Sul. Há alguns dias, o grupo revelou os estragos que a cheia fez no galpão. Praticamente toda a memória da trupe, com objetos de figurino e cenografia, foi perdida. Como continuar depois de tudo? Encenando, como sempre fez ao longo de 47 anos de história. O Ói Nóis Aqui Traveiz fará duas apresentações nas Praça José Verano (antiga praça da Febem) em 29 de junho e na Praça do México no dia seguinte, já no encerramento do festival.

A peça Ubu Tropical é uma tragicomédia que tem como protagonista Pai Ubu, um bufão primitivo, cínico e que assume o reino da Polônia por meio da força e da trapaça. O personagem é uma criação do francês Alfred Jarry (1873-1907) que nos alerta que apesar de todo o progresso que vivem as sociedades modernas, o grotesco e o autoritarismo sempre estão à espreita. Mais atual que nunca, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz sempre vai às ruas com espetáculos contra o esquecimento, e não será diferente dessa vez.

A presença de um dos mais atuantes grupos de teatro de rua do Brasil é simbólica na FIT BH 2024. O festival reúne 23 espetáculos, num hibrido de apresentações em palcos fechados (Sesc, CCBB, Instituto Cervantes e Funarte) e outras em locais públicos. É um dos maiores do País e que mantém a dinâmica de eventos do gênero: promover o diálogo entre produções nacionais e internacionais. Nesta edição, coube ao grupo espanhol Xarxa Teatre abrir o festival, com Papers!, na Funarte MG. Sem texto algum, o teatro de rua da companhia valenciana põe em questão o drama da imigração contemporânea. Ou de como os papéis (leia-se burocracia) sepultam os sonhos de uma nova vida de imigrantes que chegam a um país. A peça já tem mais de dez anos de trajetória e ainda hoje é atual.

O FIT BH 2024 é um evento oficial, assumido pela Prefeitura de Belo Horizonte desde 2008, quando passou a ser bianual. Na primeira edição, em 1994, o celebrado Grupo Galpão atuou junto ao poder municipal para a realização do festival. Dez anos depois, o teatro de palco e de rua de Belo Horizonte foi elevado à categoria de Patrimônio Cultural Imaterial da capital mienira.

Nesta comemoração de 30 anos que celebra a memória, o FIT BH 2024 apresenta duas atrações chilenas relevantes: La Cocina Pública, que fala do poder da comida como importante instrumento de socialização e troca de afetos (28 de junho), e Ñuke, de David Arancibia, que mostra a histórica violação de direitos e de resistência dos povos mapuches no Chile (dias 23 e 24). Entre as atrações nacionais, espetáculos dos Estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Sul e Bahia, e mais 12 mineiros – entre eles, Vestido de Noiva, da diretora Ione de Medeiros com o Grupo Oficcina Multimedia.

Para além da programação do FIT BH 2024, o festival apresenta oficinas, todas girando em torno do processo de atuação e criação teatral focada em temas como memória, arquivo e ancestralidade. Nas 15 edições anteriores, o evento já recebeu grupos teatrais de 45 países. O Instituto Odeon, que começou no fim dos anos 1990 como um grupo teatral, é hoje parceira da prefeitura de Belo Horizonte na realização do festival.

FIT BH 2024. De 20 a 30 de junho de 2024. Ingressos a 30 reais; exceto os espetáculos de rua (gratuitos)
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