
O título acima tem um quê de provocação e um tanto de verdade. A Última Entrevista de Marília Gabriela, em cartaz no Teatro Unimed, em São Paulo, é uma peça de mãe para filho. Ou, melhor, da vontade do filho Theodoro Cochrane em falar umas verdades há tempos guardadas em algum canto da alma na relação com a conhecida jornalista, atriz e apresentadora.
A peça é uma comédia dramática, mas não seria um erro ser chamada de melodrama. Nenhuma surpresa: qual relação entre mãe e filho (e estenda-se para pais e filhos, de maneira geral) não tem lá seus momentos expressamente dramáticos e que, expostos a público, não ganham tons patéticos? Marília Gabriela é convidada pelo filho a subir ao palco, que simula tal e qual o estúdio de TV onde a jornalista produzia entrevistas históricas.
O que se verá, a seguir, é a inversão que, provavelmente, a maioria dos jornalistas odeia: em vez de entrevistarem, serem entrevistados. É o que fará Cochrane com Marília Gabriela num rompante de sinceridade entre mãe e filho que será difícil diferenciar realidade de ficção. A proposta é tirar do armário fantasmas que vão da infância do protagonista (spoiler: a mãe é devorada no palco pela atuação do filho) até a vida adulta.
Ator, diretor, figurinista e DJ, Cochrane tem uma trajetória invejável, mas que ele faz parecer menor diante da sombra da grandeza da mãe. Ele é formado pela Escola de Arte Dramática (EAD) da Universidade de São Paulo e pelo CPT de Antunes Filho. Atuou em dezenas de novelas e séries, como Caras e Bocas, de Walcyr Carrasco, e A Casa das Sete Mulheres, de Maria Adelaide Amaral. Praticamente virou influenciador, com produções de conteúdos de grande engajamento. Nada disso importa, porque ele ainda é visto como o filho de Marília Gabríela.
E esse é um preço que Cochrane decide cobrar em A Última Entrevista de Marília Gabriela, à vista de todos. As risadas surgem, sim, mas não tantas quanto os momentos de introspecção causados quando episódios delicados emergem. De chofre, expõe a ausência da mãe quando o filho precisou dela em um episódio de bullying na escola. Ou quando teve de viver com a maledicência ao insinuarem que ele teve um affair com o namorado da mãe, o ator Reynaldo Giannechini. Soa engraçado, mas também constrangedor.
Marília Gabriela aceita, aparentemente de bom grado, a cobrança pública, o que não deixa de ser uma grande declaração de amor ao filho. Que mãe-coruja não faria isso? E daí que ela foi um fiasco numa entrevista gravada com Madonna, a rainha do playback? A lição para comunicadores e fãs da comunicação é que, como diria Faustão, quem sabe faz ao vivo. E a jornalista realmente fará isso no palco, com alguém escolhido aleatoriamente da plateia.