Elenco de
Elenco de "O Nome do Bebê", em cartaz no Teatro Faap, em São Paulo - Foto: Karina Martins/Divulgação

A montagem de O Nome do Bebê privilegia os diálogos inteligentes e espirituosos, com o senão de soar antiga em algumas passagens. Escrito como uma peça teatral pelo francês Matthieu Delaporte, o texto foi adaptado para o cinema, em 2012, por ele próprio e Alexandre de La Patellière. Coube à atriz e hoje também diretora Clara Carvalho, de longa trajetória pelo Grupo Tapa, a tradução dessa versão que está em cartaz no Teatro Faap, em São Paulo, sob direção de Elias Andreato.

Assim que sobem ao palco, Elizabete, ou Babú (Bianca Bin) e Pierre (Cesar Baccan) estão em seu apartamento de classe média alta, visivelmente afobados à procura de uma chave qualquer e de finalizar a organização de um jantar. Os filhos do casal dormem, o telefone toca e é a mãe de Babú, dando algum conselho e querendo saber das notícias. Logo chega o primeiro convidado, Claude (Marcelo Ullmann), músico instrumentista e amigo em comum do casal convidado para a noite, Vicente (Eduardo Pelizzari), irmão da anfitriã, e Anna (Lilian Regina). Estes últimos trarão a “grande” notícia a ser dada: o anúncio do nome do bebê do casal.

Parece uma prosaica cena de muitas famílias que se reúnem em todos os lugares do planeta. Vicente, que não esconde ser um mulherengo reformado (é o mínimo para alguém que vai ser pai), decide contar a boa nova, antes mesmo da chegada de Anna, atrasada em um compromisso profissional. O “nome do bebê” vai ser “Adolfo”, o que é o estopim para uma verdadeira batalha verbal, onde incidirão toda sorte de ressentimentos, preconceitos e segredos mantidos em algum cantinho obscuro da alma. Adolfo, obviamente, remete a Hitler, fato que irrita sobremaneira Pierre, um suposto intelectual progressista que se revela tão intransigente quanto qualquer fascista direitista.

As relações humanas são permeadas, de um lado, por tolerância, respeito, empatia e compreensão, e de outro por desentendimentos, conflitos e raivas contidas e ódio. O que prevalece em O Nome do Bebê, após o anúncio da criança, é esse último bloco nas discussões de ânimos acirrados. A palavra parece querer gritar por aquelas salas de estar e jantar dispostas no palco, não deixando espaço para a imagem. E é aí que residem ruídos que soam desnecessários, ou carentes de serem atualizados. Os personagens masculinos não escondem a homofobia e a misoginia atávicas, e fazem questão de reforçar essa característica com alguma insistência, além de explorar o recorte de classes sociais. A plateia se diverte.

Herdeiros da comédia de costumes, gênero teatral surgido na França no século XVIII e de grande repercussão cênica no Brasil, Delaporte e La Patellière exploram a sátira a partir de uma série de situações que parecem se encaminhar para um lado, mas a verdade indica outra direção. No fundo, é como se fosse um alerta para compreender que, muitas vezes, antes de ser tão assertivo e incisivo, vale a pena ouvir melhor o que o outro tem a dizer. Em O Nome do Bebê, ninguém ouve ninguém.

O Nome do Bebê. Direção de Elias Andreato. No Teatro Faap, às sextas e aos sábados (20 horas), e aos domingos (18); até 3 de março. Ingressos a 80 reais.
PUBLICIDADE

DEIXE UMA REPOSTA

Por favor, deixe seu comentário
Por favor, entre seu nome