56 anos depois que Gilberto Gil baixou em Caruaru, Pernambuco, acompanhado de Jards Macalé, para conhecer uma “bandinha de pífanos muito boa” que vinha sendo muito falada na música nordestina, a Banda de Pífanos de Caruaru, iniciou-se esta semana o processo oficial para reconhecer as Bandas de Pífano do Nordeste brasileiro como patrimônio cultural imaterial do Brasil. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) abriu nesta quarta-feira, 19, um edital público com a finalidade de subsidiar o processo de documentação das Bandas de Pífano, com o fim de incluir a manifestação no Livro de Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial do Brasil. A Banda de Pífanos de Caruaru, que na verdade iniciou-se em Alagoas em 1924, é uma das mais antigas em atividade (chegou a tocar para Lampião), iniciada pela família Biano. Em Caruaru, recebeu a atenção do radialista e compositor Onildo Almeida, parceiro de Luiz Gonzaga, que ajudou a gravar o primeiro álbum do grupo.
Gil foi a Caruaru em 1967, provocado por amigos. Ao ouvir e conhecer a Banda de Pífanos de Caruaru, chorou. Comparou com os Beatles. “Eles conhecem dissonância, fazem coisas que os Beatles fazem”, declarou. Recolheu a gravação de uma composição instrumental do grupo, Pipoca Moderna (que abriria seu já mítico disco Expresso 2222, em 1972) e saiu de Caruaru rumo ao Rio de Janeiro com o projeto de “renovar a Música Popular Brasileira para torná-la mais universal”. Considerando-se que, um ano depois, Gil estaria na linha de frente da criação do tropicalismo, é possível afirmar que o grupo de Caruaru teve papel fundamental no processo todo. Em 1975, Caetano Veloso fez uma letra para Pipoca Moderna, composição de Sebastião Biano, e a incluiu no seu disco Joia. “Em 67, Gil passou um tempo no Recife. De lá ele trouxe o pique para o tropicalismo. E, principalmente, uma fita cassete com o som da Banda de Pífanos de Caruaru. Desde então, a Pipoca Moderna ficou em nossa cabeça, alguma coisa transando entre os neurônios, uma joiazinha de iluminação”, declarou Caetano.
O processo para o reconhecimento das bandas de pífano do Nordeste, tradição iniciada no começo do século 20 no País, como patrimônio brasileiro começou em 2015, durante o evento Tocando Pífano, em Olinda, Pernambuco. Na ocasião, integrantes de grupos de pífanos de Panelas (PE), Piranhas (AL) e Caruaru (PE) entregaram pessoalmente um dossiê sobre sua atividade artística para um representante do Iphan.