Marília Trindade Barboza mergulha no samba e emerge com obras-primas

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A biógrafa, pesquisadora e compositora Marília Trindade Barboza. Foto: Monica Ramalho/ Divulgação
A biógrafa, pesquisadora e compositora Marília Trindade Barboza. Foto: Monica Ramalho/ Divulgação

A contribuição de Marilia Trindade Barboza ao samba, à música e à cultura brasileira já seria inestimável, por si só, se ela fosse “apenas” gestora pública (presidiu o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro entre 1999 e 2002) ou biógrafa de bambas da estirpe de Luperce Miranda (1904-1977) (“Luperce Miranda – O Paganini do Bandolim”, 2004), Paulo da Portela (1901-1949) (“Paulo da Portela, traço de união entre duas culturas”, com Lygia Santos, 1980), Pixinguinha (1897-1973) (“Filho de Ogum Bexiguento”, 1979), Silas de Oliveira (1916-1972) (“Silas de Oliveira, do Jongo ao Samba-Enredo”, 1981), Carlos Cachaça (1902-1999) (“Fala, Mangueira”, 1981) e Cartola (1908-1980) (“Cartola dos Tempos Idos”, 1983), os quatro últimos com Arthur de Oliveira Filho (1921-2010), de quem foi aluna.

"Outra Face". Capa. Reprodução. Arte de Mano Melo
“Outra Face”. Capa. Reprodução

A escola de samba Mangueira completa 95 anos nesta sexta-feira (28), data escolhida pela carioca de Vila Isabel para o lançamento de seu primeiro EP, apresentando-nos outra faceta: a de compositora. De tanto transitar por este universo, “Outra Face” (cuja capa traz arte de Mello Menezes; faça a pré-save clicando aqui) revela cinco parcerias com sambistas, a maioria deles das fileiras da verde e rosa: Carlos Cachaça (“Restos Mortais”), Nelson Cavaquinho (1911-1986) (“Caminhando”), Nelson Sargento (1924-2021) (“A Gente Esquece”), além do portelense Argemiro Patrocínio (1923-2003) (“Não Vou Sofrer”) e Arthur de Oliveira Filho (“Não Se Usa Mais”).

As parcerias de Marília Trindade Barboza são fruto de sua convivência com os sambistas, cada qual guardando uma história muito particular. “Caminhando” é o único choro conhecido de autoria de Nelson Cavaquinho, originalmente um tema instrumental, composto no instrumento que lhe emprestou o sobrenome artístico, abandonado por ele, que passou a dedicar-se integralmente ao violão. “A Gente Esquece” é uma espécie de resposta a “Acontece” – citada na introdução –, de Cartola, que não se tornou parceiro da compositora por puro acaso. “Não Vou Sofrer” aconteceu quando de sua pesquisa para a biografia de Paulo da Portela, de que Argemiro do Pandeiro, como também era conhecido, foi uma de suas principais fontes. “Um dia ele me chamou à parte, cantou uma estrofe de um samba que acabara de criar. Logo na segunda passada, cantei junto com ele. Então ele disse: ‘Põe a segunda!’ Missão dada, missão cumprida. E na roda seguinte, cantei a parte que fiz e ele gostou. Guardei a música numa fita cassete, onde ficou dormindo até hoje”, revela Barboza.

Carlos Cachaça tinha vontade de publicar um livro de poemas e foi assim que ela conheceu “Restos Mortais”, única faixa do EP em que a música é toda dela: ao receber de Hermínio Bello de Carvalho, que então ocupava um cargo na direção da Funarte, a incumbência de organizar o material do compositor para publicação, “disse ao Carlos que muitos daqueles poemas ficariam muito bem se fossem musicados” e passou um para Dona Ivone Lara (1921-2018), que faleceu sem ter tempo de fazer a melodia, e um a Délcio Carvalho (1939-2013), que musicou “Caminho da Existência”.

O repertório se completa com “Não Se Usa Mais”, sua parceria com o professor-biógrafo, com quem também tomou aulas de violão e por quem foi apresentada a grandes instrumentistas, como Raphael Rabello (1962-1995) e César Faria (1919-2007). “Sempre fui uma amante do choro e o período de abandono pelo qual ele passou sempre me incomodou muito”, comenta a compositora sobre a síntese desse sentimento, na letra.

Grandes parceiros, intérpretes idem, instrumentistas ibidem. Para dar voz a estas criações, Marília Trindade Barboza escalou, pela ordem do EP, Pedro Miranda (“Não Vou Sofrer”), Marcos Sacramento (“Caminhando”), Áurea Martins (“A Gente Esquece”), Pedro Paulo Malta (“Restos Mortais”) e Nina Wirtti (“Não Se Usa Mais”), que são acompanhados por Luís Filipe de Lima (violão, arranjos e produção musical), Kiko Horta (acordeom), Luis Barcelos (bandolim), Thiago da Serrinha (cavaquinho e percussão), Fabiano Segalote (trombone), Eduardo Neves (sax e flauta) e Júlio Florindo (baixo elétrico).

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