Ryuichi Sakamoto garimpou música no Cosmos

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Ryuichi Sakamoto (1952-2023) deixou uma obra muito abrangente para ser definida em poucas palavras. Foi um músico no sentido mais elástico do termo: performer visceral, estudioso profundo, arrebatado e arrebatador, synth-pop e orquestral, ousado & reverente à tradição, eletrônico e acústico, doce e perturbador.

Suas composições habitam uma zona desfronteirizada que vai do francês Claude Debussy ao brasileiro Tom Jobim, do alemão Alva Noto à nouvelle vague japonesa de Nagisa Oshima. A visualidade e a possibilidade de fazer a música em movimento seduziram o compositor de forma radical.

Foi parceiro de Jaques Morelembaum, Caetano Veloso, David Bowie, Iggy Pop, Youssou N’Dour, David Sylvian, Nam June Paik, Thomas Dolby, entre muitos outros artistas de um espectro amplíssimo. Integrou o grupo Yellow Magic Orchestra, cujas experimentações impulsionaram a música eletrônica mundial (ao lado do baterista Yukihiro Takahashi e o multiinstrumentista Haruomi Hosono).

Nascido em Tóquio, em 1952, era filho de um editor que publicava romances de escritores do pós-guerra, como Kenzaburo Oe e Yukio Mishima. Começou a tocar piano com 6 anos, tornando-se um prodígio do instrumento muito cedo. Deixou-se impulsionar em direção aos provocadores mais radicais, como Stockhausen, Boulez e Xenakis. Seu show no Sónar Festival de São Paulo, em 2012, acompanhando imagens produzidas por Alva Noto, eletrônico alemão, ao vivo, ao piano, foi um acontecimento inesquecível.

Em 1983, estreou no cinema ao lado de David Bowie no filme Furyo – Em Nome da Honra (Merry Christmas, Mr. Lawrence), de Nagisa Oshima, um culto absoluto daquela década, o duelo cultural e emocional de nervuras expostas encenado por ele e Bowie. A trilha sonora também foi composta por ele, a seu pedido. Em 1987, Bernardo Bertolucci o convidou para fazer a trilha de O Último Imperador, que lhe deu o Oscar, um Grammy e um Globo de Ouro. Em 1990, fez a trilha de O Céu que Nos Protege, também de Bertolucci, com Debra Winger e John Malkovich. Também fez música para Babel, de Inãrritu, e para De Salto Alto, de Pedro Almodóvar, entre outros filmes.

Foi ativista contra as usinas nucleares, luta que documentou em Coda. Ficava aterrorizado com o resultado dos acidentes nas usinas. Suave e cavalheiresco, nunca se negava a conversar sobre os temas de sua predileção: música e as possibilidades do futuro. Em 2021, descobriu um câncer de reto, que o levou a escrever ensaios sobre sua condição até o último dia 28, quando morreu.

Ryuichi tinha um ditado em latim que adorava repetir: Ars longa, vita brevis (Arte longa, vida breve). Ele garimpou a música do Cosmos, e a trouxe em pepitas já lapidadas para perto de nós.

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