A direção da Agência Nacional de Cinema (Ancine) exonerou na última terça-feira, 28, o policial rodoviário federal (PRF) Marcelo Ligiero Bittencourt do cargo de assessor da Superintendência de Fiscalização da Secretaria de Regulação da agência. O policial estava desde 2019 no cargo e cumpria uma agenda de autoridade pública, com encontros com representantes consulares e participou de atividades de investigação policial, como a Operação Sem Sinal, da Polícia Civil.
O agente da PRF era um dos dois policiais rodoviários federais levados à Ancine durante o governo de Jair Bolsonaro, segundo noticiou o FAROFAFÁ em setembro do ano passado. Sua presença, assim como a de militares, numa agência de fomento do audiovisual foi uma das marcas da intervenção ideológica de Jair Bolsonaro nas instituições públicas. O Superintendente de Prestação de Contas da Ancine prossegue sendo o capitão de mar e guerra Eduardo Cavalcanti Albuquerque, e o Ouvidor-Geral da agência é João Paulo Machado Gonçalves, que foi braço direito do general Walter Braga Netto no Ministério da Casa Civil.
A diretoria da Ancine, após a troca de governo, para buscar uma sobrevida, tenta se adequar novamente à ordem republicana, aumentando a representatividade de cineastas, técnicos e produtores nos colegiados de apoio às políticas audiovisuais. Essa semana, uma portaria da sua diretoria reinstalou a Câmara Técnica Setorial das Entidades Representativas da Produção Brasileira Independente, com representantes de organismos de categorias que foram críticos durante os últimos 4 anos de atuação da agência – como, por exemplo, a Associação Brasileira de Cineastas (Abraci), a Associação Paulista de Cineastas (Apaci), a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan, exilada em todo o governo passado), A Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro (API) e a Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste (CONNE).
A nova postura da direção da Ancine, entretanto, não está servindo como salvo-conduto para que os malfeitos durante os últimos anos sejam esquecidos. Duas cartas, uma da Abranima (Associação Brasileira de Animação) e outra do Fórum dos Festivais, representativos de classe, questionam a forma como a agência vem sendo conduzida. O Fórum dos Festivais aponta “total ausência de diálogo e paralisia da política setorial” na direção da Ancine mesmo nesse início de governo, em carta assinada por 16 festivais e endereçada ao presidente Lula e à ministra Margareth Menezes.
“Consideramos que a Ancine precisa ser reformada, ganhar velocidade, eficiência burocrática, tratar as empresas como entes parceiros, e não apenas regulados, além de ser periodicamente avaliada pelo mercado”, diz carta da Abranima, que indica os nomes de João Batista Silva, Silvia Prado e Arnaldo Galvão para ocupar o cargo vago na diretoria colegiada da agência. João Batista Silva também é indicado pelo Fórum dos Festivais.