Marcélia Cartaxo é Maricélia,
Marcélia Cartaxo é Maricélia, "A mãe". Frame. Reprodução

Marcélia Cartaxo é uma das mais exuberantes atrizes brasileiras em atividade. Ela é “A mãe” que dá título ao novo longa-metragem de Cristiano Burlan, premiado nos prestigiados festivais de Vitória e Gramado e exibido na 46ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que estreou ontem (10) nas salas brasileiras.

Maricélia (Cartaxo) é uma mãe desesperada em busca do filho adolescente, desaparecido após sair de casa para uma peneira em um clube de futebol. A outra paixão de Valdo (Dustin Farias) – personagem cujo nome talvez seja uma sutil homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, torturado até a morte no Doi-Codi, em 1975 – são o ritmo e poesia que formam a palavra rap, terreno no qual ele se aventura. Outro momento poético destacado no filme é a homenagem ao cearense Patativa do Assaré (1909-2002).

O filme se passa em São Paulo, foi rodado em 2020, entre o Centro e o Jardim Romano: mãe e filho moram na periferia e ela ganha a vida como camelô. Logo a opressão da cidade grande deixará de ser apenas a do “rapa”, a polícia que persegue ambulantes sem licença, mas também a institucional, que ao mesmo tempo em que exige respeito a suas autoridades, não consegue – ou não quer – dar conta das demandas das classes sociais menos abastadas.

Maria, como Maricélia é carinhosamente chamada por vizinhos e amigos, no entanto, não baixa a cabeça, nem desiste. Apesar do desespero, percorre de cabeça erguida delegacias e organizações não-governamentais. Merece destaque a presença-homenagem da atriz Helena Ignez, musa do cinema marginal, no papel de dirigente de uma ONG que presta assistência a mães de filhos assassinados ou desaparecidos na ditadura militar.

Num Brasil violento em que ficção e realidade se confundem, há algumas “coincidências” intencionais, no filme de Burlan: como a própria Marcélia Cartaxo, sua personagem vem da Paraíba para tentar a vida na metrópole. O diretor teve um irmão vitimado pela brutalidade policial há 10 anos e sua mãe, há cinco, foi vítima de feminicídio, como ele revela no material de divulgação enviado aos meios de comunicação: “Meu irmão foi assassinado pela polícia em 2001. Dois anos depois, fiz o documentário “Mataram meu irmão”. Em 2012, minha mãe foi morta pelo namorado e em 2017 fiz “Elegia de um crime”. Minha história não é uma exceção. A impunidade, o preconceito, a desigualdade, a mídia e os governos transformam essas vidas em números. Mas por trás das estatísticas existem irmãos, amigos, mães e filhos”, conta o diretor gaúcho.

“A mãe” permite ao espectador refletir sobre diversos temas bastante atuais no Brasil: abandono paterno, violência policial, o assédio do tráfico de drogas e o estigma de moradores de periferias como traficantes/bandidos, os pactos de silêncio em torno de determinados temas-tabus, solidariedade, luta de classes e a herança dos porões da ditadura militar brasileira (1964-1985) no modus operandi das polícias militares, com torturas e execuções como método, em um país que não lida bem com o passado e também por isso insiste em não sair dele.

A mãe. Cartaz. Reprodução
A mãe. Cartaz. Reprodução
Serviço: “A mãe”. Direção: Cristiano Burlan. Drama. Brasil, 2022, 90 minutos. Em cartaz nos cinemas brasileiros.

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Veja o trailer:

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