Um antigo reclame de refrigerante dizia que “imagem não é nada, sede é tudo”. Quem foi adolescente quando existia a MTV Brasil, se lembra de clássicos (aliás, nome de um programa da época) veiculados na emissora, na provavelmente primeira experiência maciça de música com imagem, o que é praticamente a regra dos tempos atuais – há exceções, é claro, por diversos motivos.
Os paulistas Camila Brasiliano e Felipe Borim (ele mora no Rio de Janeiro) acabam de lançar “Sois” (sucessor de “Sós”, álbum de estreia do duo, de 2017), que bem poderíamos chamar de EP audiovisual: as três faixas do novo trabalho ganharam videoclipes de animação de Lola Ramos (direção, roteiro, arte e animação), artista visual brasileira radicada em Barcelona; ela assina também a capa do EP.
“Se ela soubesse/ do amor que ficou por cantar/ ficou penso no ar/ já não sabe onde está”, começa a letra de “Tão só” (Felipe Borim), um quase afro-samba, enquanto a personagem passeia em vários meios de transporte, talvez com destino incerto em busca desse amor.
O trabalho equilibra doses de melancolia, delicadeza e beleza. Em “Água” (Felipe Borim/ Roberta Zerbini), por exemplo, nascem flores enquanto ouvimos a letra terminar: “E mesmo, longe, perto, ermo,/ tudo estando tão deserto/ eu encontraria o meu lugar/ afinal”.
O videoclipe de “Luz” (Felipe Borim) remete aos universos de Djavan (“Pétala”, “Nem um dia”, “Eu te devoro”) e Lewis Carroll (“Alice no país das maravilhas”), entre pétalas, o livro como espelho, e enigmas a serem decifrados, como termina a letra: “Você vai se perguntar/ sem saber/ se isso que você deixou morrer/ era o que você esperou pra ter/ se esgotou sem ver/ sem chegar”.
Se “Sós” era um disco de voz e violão, em “Sois” a sonoridade do duo é encorpada: a Camila Brasiliano (voz) e Felipe Borim (violão e guitarra) se somam Danilo Penteado (baixo acústico e elétrico) e Antonio Loureiro (piano, xilofone, bateria, percussões e produção musical). Tó Brandileone assina a engenharia de som.
Com seus cruzamentos de Clube da Esquina, rock alternativo e jazz contemporâneo, “Sois” começou a ser gestado ainda antes da pandemia, mas já se valendo de ferramentas virtuais para produção à distância, com o duo entre Rio e São Paulo e Antonio Loureiro em São Roque, no interior paulista. O EP já estava pronto em março de 2020, quando eclodiu a crise sanitária global, o que atrasou seu lançamento. O consequente isolamento social obrigou-os a uma parada: tempo suficiente para conhecerem o trabalho de Lola Ramos, que concebeu e desenhou os videoclipes.
“Logo de cara gostamos muito do traço e dos desenhos dela. É impressionante como Lola conseguiu captar muito bem a intenção de cada uma das músicas, e juntos construímos um roteiro que constrói a busca de nossa personagem, chamada Clara, numa investigação dentro de si mesma. Criamos uma narrativa em que a observamos em diferentes momentos de sua saga existencial: na infância, na juventude e na meia idade”, explica Camila.
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Assista aos videoclipes: