HQ vê o aumento do neonazismo sob Bolsonaro

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Nos últimos três anos, os grupos neonazistas cresceram 270% no Brasil, segundo um estudo empreendido pela antropóloga Adriana Dias. Existem 530 núcleos extremistas identificados, e cujo número de integrantes pode chegar a 10 mil pessoas. Em comum, eles disseminam e exercitam o ódio contra negros, judeus, povos indígenas, humanistas e a população LGBTQIAP+.

O que aconteceu no Brasil nos últimos três anos? A resposta é clara e cristalina, ocupa a presidência na República no momento, mas boa parte das consciências finge que não sabe ou não tem coragem de estabelecer a relação imediata, para manter uma aura de isenção. Como a emergência desses extremistas está mudando a rotina do País nas cidades médias, na vida cotidiana dos cidadãos comuns? Eis que uma nova história em quadrinhos surge justamente com o propósito de mostrar essa realidade. Trata-se de Agropunk, do paulista Ulisses Garcez.

Embora situada no território exclusivo da ficção, Agropunk se incorpora a uma tradição de jornalismo em quadrinhos que foi inaugurada por Joe Sacco e atingiu um notável desenvolvimento nas HQs contemporâneas. Ulisses Garcez ambienta sua história numa cidade do interior paulista, Barili (ou Bauru? Ou Birigui?), e capricha na descrição dos tipos de cidadãos jovens que vivem uma vida alijada de perspectivas – alguns ricos, misóginos e reacionários, outros de classe média baixa, inertes, encostados na aposentadoria dos pais e avós e parentes.

Nesse cotidiano de laissez-faire existencial, Agropunk vê o avanço dos “sertanazis”, um ideário de violência e intolerância que cresce na mesma medida em que o abandono do Estado prospera. Mas é uma história clássica em quadrinhos, com dualidade bem X mal, heroi circunstancial e que insinua um provável final feliz. Lu vive com a avó e está grisalho, inativo. Está obeso, sem vida sentimental, sedentário e cercado de amigos nos quais não vê qualidades evidentes. Após um princípio de infarto, Lu é obrigado a mudar de vida, e a mudança progressiva o faz enxergar que não se justifica mais a neutralidade.

Com um traço típico do quadrinho underground, sujo e ao mesmo tempo numa narrativa limpa, sem mirabolâncias estéticas, Garcez conta sua história de forma tremendamente eficiente. Ressalta as diferenças culturais entre ouvintes de Ratos de Porão e Dire Straits, os ambientes tecnológicos e rurais, e faz o link necessário com o bolsonarismo (um nazi tem a frase “Brasil acima de tudo” tatuada nas costas).

Ativo no mundo das HQs independentes desde os anos 1990, Ulisses Garcez foi editor da revista Sociedade Radioativa e, artista visual, já expôs em galerias como o Centro Cultural Fiesp, na Avenida Paulista. É mestrando em artes na USP.

Agropunk. De Ulisses Garcez. Editora Veneta, 136 páginas, 40 reais

 

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