Portento do piano cubano, Roberto Fonseca (também chamado de Robertico Fonseca, e às vezes Robertito) emergiu na cena musical logo após a perda de um gigante, don Rubén González (1919-2003). O próprio mestre do dream team Buena Vista Social Club, responsável por juntar o mambo à síncope do jazz, elegeu em vida Robertico como um dos seus mais talentosos sucessores – ele tinha então 28 anos quando substituiu don Rubén pela primeira vez em turnê, em 2004, apresentando-se com o Buena Vista aqui em São Paulo, no antigo Via Funchal.
Agora com 47 anos, Robertico já tocou no Brasil muitas vezes, estreitando os laços e as colaborações com artistas como Chico Pinheiro, Alê Siqueira, Swami Jr., Carlinhos Brown, Toninho Ferragutti, entre outros. Mas já tinha uns 9 anos que ele não vinha, e na noite desta quarta-feira, 22, toca no Blue Note de São Paulo com um trio (estará acompanhado do baixista Raul Martinez e do baterista Yandy Gonzalez). Se há um show nesta temporada que pode levar o carimbo de imperdível, é este.
Roberto Fonseca, Xangô na santería (“Para mim, a espiritualidade é o fator mais importante da música”), formou suas preferências inicialmente na própria casa: toda sua família é de músicos. A mãe é cantora, Mercedes (ela entoa um cântico ritual na abertura de um dos discos mais celebrados de Roberto, Zamazu, de 2007). O avô era percussionista, os irmãos são também pianistas e percussionistas.
Mais do que os grandes do piano cubano (Bola de Nieve, Bebo Valdés, Chucho Valdés e Gonzalo Rubalcaba, todos próximos), seu estilo foi forjado ouvindo muito também o jazz norte-americano, astros como Thelonious Monk, Bill Evans, Keith Jarrett, além do canadense Oscar Peterson e o brasileiro Tom Jobim, como acentuou certa vez. No início, a jazz fusion o pegou de jeito, e ele fez um disco de estreia muito influenciado pelo Weather Report e por Herbie Hancock (com quem tocou, além de Wayne Shorter). O cubano, nascido em Havana, também já teve uma indicação ao Grammy.
Da estrada, acompanhando cantores como Ibrahim Ferrer ou Omara Portuondo, Robertico traz um estilo que mescla as influências com suavidade, da modernidade do jungle e do hip-hop aos ritmos tradicionais ibéricos e à infusão caribenha. O estilo é o da improvisação rascante, a surpresa. No show do Blue Note, Robertico centra fogo em seu nono e mais recente álbum, Yesun.