Fundada na França em 2007, a plataforma musical Qobuz chega agora ao Brasil, com a promessa de trafegar na contramão das ultracomerciais Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon Music etc. A característica distintiva é o pioneirismo de exigir das músicas veiculadas o selo Hi-Res, indicativo de alta resolução sonora, sem passar pelo processo de compressão de formatos como o mp3, que para muitos achata e nivela por baixo os sons que armazena. Álbuns e músicas que não estejam disponíveis em Hi-Res entram na plataforma no mínimo com o padrão de qualidade do velho CD, mas nunca de mp3.

A exclusividade já não é completa na chegada ao Brasil, pois Apple e Amazon passaram a adotar (por enquanto sem taxas extra) alternativas chamadas de HiFi, que prometem perda zero de qualidade sonora na compressão dos sons para as plataformas. A líder desse mercado havia anunciado a Spotify HiFi para dezembro de 2021, mas a estreia foi adiada e não há previsão para a implementação.

Nem tudo são rosas, como demonstra Roberto Neri, representante da Qobuz para Brasil e Portugal: “A plataforma disponibiliza música em Hi-Res, e para que o público tenha acesso à alta resolução ele precisa ter um equipamento para ouvir música em alta resolução, que normalmente é caro. A plataforma tem muito sucesso em países mais ricos, mas no Brasil, como esses equipamentos são custosos, a gente investiu em outras qualidades que a plataforma tem, tanto na parte de ter um catálogo diversificado quanto na curadoria humana”. Sua fala reflete a brutal desnacionalização da indústria musical no Brasil, totalmente entregue às gigantes transnacionais da área.

A Qobuz foi criada por dois artistas franceses, Yves Riesel e Alexandre Leforestier, que queriam consumir música com qualidade de estúdio de gravação, e não de mp3, e começou como um serviço de download, quando ainda não existia streaming no domínio da difusão musical. Ficamos de fora desse segundo serviço: “A opção de download não está disponível no Brasil por enquanto”, diz Neri. Sobre o pagamento de direitos autorais, um nó distante de ser desatado na relação entre artistas/produtores e plataformas distribuidoras, Neri defende: “Os direitos autorais são um ponto bastante polêmico na indústria da música. Ao contrário de outras plataformas, a Qobuz não é gratuita. Você só escuta 30 segundos gratuitos, depois precisa pagar. O fato de a gente não disponibilizar música gratuita para os usuários permite pagar os artistas de maneira mais justa”. Os planos de assinatura da Qobuz variam entre R$ 25,90 (individual), R$ 33,90 (para duas pessoas vivendo no mesmo endereço) e R$ 41,90 (familiar, para até seis pessoas num mesmo endereço) por mês.

Outro setor que o serviço francês vende como exclusivo é a seleção orientada pela qualidade artística, além da sonora. Segundo Neri, os algoritmos não mandam na Qobuz: “A plataforma conta com curadoria humana, o que outras plataformas não conseguem ter. A única parte encontrada pelo algoritmo é a ‘Selecionados para você’, de sugestões semanais a partir das escutas do usuário”. Destaques e playlists são montados por seres humanos, sob critérios editoriais, e não comerciais, diz Neri: “Não vamos competir com a indústria do sertanejo ou do funk. Não temos interesse em dar visibilidade para um artista só porque ele está fazendo maior número de streamings. O ouvinte vai encontrar o artista sertanejo dentro da plataforma, mas a visibilidade dentro da plataforma é para os artistas que se alinham com a proposta da Qobuz”.

A diferença se reflete no ranking de gêneros mais ouvidos na plataforma. Mundialmente, o gênero dominante é o rock, seguido, nesta ordem, por música clássica, jazz, world music, pop e música eletrônica. Os demais gêneros listados na Qobuz são hip-hop/rap, soul/funk/r&b, blues/country/folk, América Latina e “brasileiríssimo”. O catálogo nacional parece ainda bastante limitado, principalmente no que diz respeito à discografia histórica para além dos nomes e títulos de sempre. “É óbvio que vai ter grandes nomes brasileiros, mas estamos apostando numa nova cena, numa nova musicalidade brasileira”, explica Neri. Como exemplos de artistas locais para os quais a plataforma prepara campanhas de visibilidade, ele cita Tim BernardesElza Soares Rita Lee. Os destaques colocados no alto podem ser fruto de negociações comerciais ou curadoria subjetiva da equipe, afirma.

Além da curadoria propriamente musical, a Qobuz pretende funcionar também como uma revista eletrônica, publicando biografias de artistas, críticas de álbuns e textos jornalísticos (uma reportagem em destaque no alto da plataforma se chama “30 anos de manguebeat”). As fichas técnicas das canções são tratadas com mais cuidado que o dedicado por Spotify e outras, com resultados frequentemente desastrosos. Aqui se encontram informações sobre compositores, produtores, gravadoras e, por vezes, músicos que tocaram em cada faixa (novamente, muito menos no caso de música brasileira que nas norte-americana e europeia).  Caso peculiar são as playlists dedicadas a gravadoras históricas, em que se podem ouvir, por exemplo, coleções de músicas gravadas em etiquetas lendárias como Elektra, Island, Stax e ¡Impulse!, “clássicos da Def Jam” ou músicas de Al Green lançadas pelo selo Hi nos anos 1970. São 80 milhões de músicas, segundo a propaganda da Qobuz.

 

 

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