“3 Tonelada$”, da Netflix, surfa na onda dos “true crimes”

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Cena de "3 Tonelada$", série documental da Netflix
Cena de "3 Tonelada$", série documental da Netflix - Foto: Divulgação

“Uma sacola cheia de dinheiro chegou e o interfone tocou. Falaram: ‘Cada pacote vai ser 500 (mil reais)!’ Tiramos 330 sacos. Me deu nojo de dinheiro.” Assim, um dos responsáveis pelo assalto a banco mais famoso do Brasil arremata uma de suas falas no documentário 3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central, em streaming na Netflix. O depoimento inédito é um dos mais importantes na narrativa da série documental, que busca apresentar detalhes do furto de mais de 160 milhões de reais no banco mais seguro de Fortaleza, em 2005.

Naquele ano, um grupo de cerca de 26 pessoas levou adiante a ideia de cavar um túnel de uma casa localizada na Rua 25 de março, 1071, na zona central de Fortaleza, até o Banco Central, a 80 metros de distância. O que parecia cena de cinema virou realidade. Apelidado de “assalto do século” pela imprensa da época, o crime figura até hoje como um dos maiores do mundo.

A série da Netflix apresenta detalhes de um “crime quase perfeito”, se não fosse pela história que se sucedeu após o roubo. 3 Tonelada$ mostra o descuido dos criminosos ao tentarem se comunicar com familiares, a presença de policiais corruptos e a demora da Polícia Federal em descobrir o que muita gente já sabia nos locais onde eles se escondiam. Assistir a obra após ver La Casa de Papel, badalada série fictícia da mesma plataforma, rende boas coincidências e comparações.

Do lado oposto da história, dois policiais federais também tiveram suas identidades preservadas nas entrevistas, já que permanecem infiltrados na investigação que continua até hoje. Suas falas retratam acontecimentos importantes e ajudam o espectador a formular uma linha do tempo e entender como tudo aconteceu. A narrativa dá destaque ao período entre 5 de agosto de 2005, quando os criminosos entraram no banco, passando pelo descobrimento do assalto, apenas três dias depois, quando um funcionário entrou na caixa forte para trabalhar.

Tudo isso permitiu que o grupo pudesse roubar três toneladas e meia de dinheiro tranquilamente durante cerca de 11 horas, já que nenhum sensor de movimento ou câmera detectou a ação. Tudo isso é mostrado com imagens de vídeo e fotos da época. Esses, inclusive, são apenas alguns dos “erros” destacados na série.

Apesar de contar com mais de 30 personagens, assistir aos três episódios de uma hora cada pode ficar cansativo. Em uma tentativa de não esgotar os mesmos rostos na tela, já que a série tem seus personagens principais, o diretor-geral da série, Rodrigo Astiz, e o diretor e roteirista, Daniel Billio, apostam também em recriar cenas fictícias. A ideia parece girar em torno de criar imagens tão fieis quanto as que passaM no imaginário de quem viveu os anos 2000.

O documentário faz parte de uma crescente do gênero “true crime” no Brasil – e que não parece parar por aqui. Plataformas como Amazon e Netflix já anunciaram novos lançamentos do gênero para os próximos anos, como o caso do incêndio da Boate Kiss, que matou mais de 200 pessoas em Santa Maria, em 2013, e que vai virar série audiovisual.

* Resenha produzida para o Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo (Celacc-USP)

3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central. De Rodrigo Astiz. Série documental na Netflix.
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