Enquanto mundos entram em colapso, outros mundos podem renascer. No Norte do Brasil, uma língua indígena ameaçada de extinção, o Kwazá, teve pedido de proteção como referência cultural brasileira ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O autor do pedido é o Museu Paraense Emilio Goeldi, como resultado do Levantamento Regional da Situação Sociolinguística das Etnias Indígenas de Rondônia.
Segundo estudiosos, os Kwazá eram aproximadamente 150 indivíduos em 1998, mas no fim daquela década só havia 25 falantes do Kwazá entre os indivíduos restantes, metade deles crianças. A pesquisa realizada pelo Museu Goeldi classificou a língua Kwazá como uma língua genealogicamente isolada (ou seja, uma língua que não tem parentesco comprovado com outras línguas ou famílias linguísticas conhecidas).
O povo indígena Kwazá atualmente vive nas Terras Indígenas Tubarão-Latundê, próximas à cidade de Chupinguaia (RO); na Terra Indígena Kwazá do Rio São Pedro, próxima ao município de Parecis/RO; e em algumas outras cidades do referido estado. No território onde estão as comunidades Kwazá há uma grande diversidade étnica, o que o caracteriza como um território multilíngue. Uma parte dos Kwazá se reconhece como Aikanã. Metade dos Kwazá é trilíngüe, pois também falam Aikanã e Português.; uma parte é bilíngüe em Kwazá e Português; e apenas alguns falam apenas o Kwazá. Existem alguns falantes de Kwazá como segunda ou terceira língua, e alguns “falantes passivos”, que entendem o Kwazá. No campo, produzem açaí e babaçu.
Alguns Kwazá moram em áreas urbanas da região (como Porto Velho e Pimenta Bueno), sem contato com os índios que vivem nas aldeias. É possível que já tenham perdido o domínio da língua. A língua Kwazá é, portanto, uma “língua ameaçada de extinção”, isto é, exposta ao risco de desaparecer em muito pouco tempo, porque é falada por poucas pessoas ou/e porque não está sendo transferido para as novas gerações. Na mesma situação também se encontram as línguas vizinhas Kanoê e Latundê.
Expulsos de suas terras por fazendeiros após a abertura da BR-364, na década de 60, o povo Kwazá perdeu integrantes e parte expressiva de sua cultura, conforme texto do linguista holandês Hein van der Voort no portal Povos Indígenas no Brasil. Eram conhecidos na literatura como ‘Koaiá’. Seus vizinhos tradicionais eram os Aikanã, Kanoê, Tuparí, Mekens/Sakurabiat, Salamãi e outros. Hoje, a maioria desses povos ou foram dizimados ou vivem espalhados. A maioria dos Kwazá já está mestiçada com os Aikanã. Existe também uma família mista de Kwazá e Aikanã em uma pequena área na região do igarapé São Pedro, a Terra Indígena Kwazá do Rio São Pedro.
Todos os Aikanã falam o português e alguns falam o Kwazá. Mas existem alguns que só falam o português. Um dado interessante é que em duas aldeias os alunos estão sendo alfabetizados, também, em sua língua materna. Daí a importância da inclusão do seu idioma originário no Inventário Nacional de Diversidade Linguística (INDL) do Patrimônio Histórico, o que vai ensejar medidas de revitalização da língua e sua proteção.