Amizade (e parceria) celebrada com música

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Os parceiros Rogério Batalha e Moacyr Luz. Foto: Marluci Martins. Divulgação
Os parceiros Rogério Batalha e Moacyr Luz. Foto: Marluci Martins. Divulgação

Parcerias de Moacyr Luz e Rogério Batalha ganham vida na voz de 10 intérpretes, acompanhados pelo violão de Carlinhos Sete Cordas

Luz e Batalha são características do povo brasileiro, embora muitos queiram retirar-lhes ou negar-lhes: o país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, como cantou Jorge Benjor, de praia, samba, carnaval e futebol, de riso fácil e farto, para além dos estereótipos, são sua luz; à batalha nascemos acostumados, ao menos aqueles que não têm a sorte de um berço de ouro; a batalha pelo pão, a batalha por direitos.

Antes que tudo acabe. Capa. Reprodução
Antes que tudo acabe. Capa. Reprodução

Luz e Batalha são também os sobrenomes de Moacyr e Rogério, respectivamente: Moacyr Luz, escritor, compositor, violonista, cantor, sambista, integrante de entidades coletivas como o Samba do Trabalhador e o Dobrando a Carioca (com Guinga, Jards Macalé e Zé Renato); e Rogério Batalha, poeta de Vista Alegre, na zona norte do Rio de Janeiro, autor de três livros de poesia e de todas as letras de “Antes que tudo acabe” (Biscoito Fino, 2022), que chega nesta terça (15) às plataformas digitais. Na capa do disco, uma folha partida, parte verde e viçosa, parte seca, a nos lembrar da finitude das coisas.

Emolduradas apenas pelo violão que dá sobrenome artístico a Carlinhos Sete Cordas, as 10 parcerias inéditas da dupla ganham esmeradas interpretações de Beth Dau, Humberto Effe (que iniciou sua carreira no Picassos Falsos), Mingo Silva, Douglas Lemos, Branka, Moyseis Marques, João Cavalcanti, do próprio Moacyr Luz, Marina Iris e Alice Passos, aqui citados pela ordem das faixas do disco.

O álbum é uma coleção de acertos: parceiros há mais de 15 anos, as letras de Rogério Batalha casam perfeitamente com as melodias de Moacyr Luz e cada música parece ter sido feita já pensada para cada intérprete que as gravou.

Quase meio minuto após o violão dizer a que veio na introdução, “Baluarte”, na voz de Beth Dau, abre o disco: “estranhamente me desejas/ em outras bocas e mal sabes/ quando advogas meu desejos/ e consomes minha mocidade/ furtando assim meus próprios beijos/ em bocas que já não me cabem/ ainda que mal saibas do meu apreço/ pra mim tu és um baluarte”.

“Pobre orquídea” é um dos pontos altos do disco, na interpretação firme de Humberto Effe. “A fantasia não tem valia depois do alvorecer”, filosofa a letra, no eterno embate entre realidade e carnaval. Mingo Silva dá vida ao morador do subúrbio ou do interior em “Eu sou da roça”, enumerando suas delícias e prazeres.

“A ciranda que inventei”, interpretada por Moyseis Marques, é uma inspirada homenagem ao sambista Wilson Moreira (1936-2018). “Eu já vi chover” reafirma a qualidade da interpretação de João Cavalcanti. Moacyr Luz interpreta “A tarde”, sobre um amor onírico. “Gratidão”, na interpretação de Marina Iris, é música, como diria Noel Rosa, em feitio de oração, com o sincretismo brasileiro que une santos e orixás em agradecimento.

A beleza do canto de Alice Passos em “Pensando bem” fecha o disco em grande estilo, celebrando a amizade – não fosse a amizade, certamente não existiriam essas parcerias e, consequentemente, este disco. “Pensando bem, amigo é tudo que se tem”, finaliza.

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