O Superintendente de Prestação de Contas da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o militar Eduardo Andrade Cavalcanti de Albuquerque, notificou nesta quarta-feira, 26,  a produtora cinematográfica Tipos e Tempos Produções, do cineasta e imortal da Academia Brasileira de Letras Cacá Diegues (e sua mulher, Renata Magalhães) para recolher em 30 dias o débito relativo ao filme O Maior Amor do Mundo, que estreou em 2006 (com o ator José Wilker, que morreu em 2014). O filme começou a ser produzido em 2003, o que dá um tempo transcorrido de quase 19 anos desde seu início.

A medida da Ancine, além de contrariar decisão do STF sobre prescrição de prestações de contas, parece se constituir em mais um ato de perseguição política da atual gestão da Ancine. Cacá Diegues, que fará 82 anos em maio, tem sido uma das vozes mais críticas das políticas culturais do governo de Jair Bolsonaro. Caso não localize documentos de 18 anos atrás, a produtora é ameaçada de inscrição em dívida ativa (o que inviabiliza novas produções) e os nomes das pessoas físicas e/ou jurídicas responsabilizadas poderão ser registrados nos cadastros restritivos do Cadin no prazo de 75 dias (além dos serviços de proteção ao crédito, como o SCPC, Serasa e afins).

O alagoano Cacá Diegues é um dos maiores diretores de cinema do Brasil. Dirigiu 18 longas, entre eles “Bye Bye Brasil” (1980), “Orfeu” (1999), “Deus É Brasileiro” (2003), “Chuvas de Verão” (1978) e “O Grande Circo Místico” (2018), seu trabalho mais recente. Até a produtora de Cacá e Renata é outra hoje, chamada Luneta Mágica.

“Nada aconteceu de bom neste governo em relação à cultura. Não só não houve interesse em colaborar com o setor como também está sendo destruído o que havia. Um desastre”, afirmou Cacá há dois anos, em entrevista a João Bernardo Caldeira, no Valor Econômico. “Como a Ancine tem acesso a muitos recursos e nada acontece, às vezes imagino que tudo isso é um satânico projeto do governo para acabar com o cinema brasileiro por inércia”, afirmou. “O mais grave não é o que ele diz que pensa, o mais grave é que Bolsonaro é um farsante, incompetente, despreparado, desequilibrado, incapaz e, sobretudo, um homem mau. O Brasil está sendo governado por uma negativa do que deveria ser o ser humano.”

DESTINO

A gestão arrivista e ideológica da Ancine tem fustigado, com as armas da burocracia, todos seus “inimigos” políticos, caso dos humoristas do grupo Porta dos Fundos, por exemplo. A atual direção, como prémio por sua subserviência, conseguiu garantir-se nos cargos ao menos até 2026. Seu futuro é objeto de discussão entre os candidatos de oposição à presidência – a iminente entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico, organização econômica intergovernamental com 38 países membros, fundada em 1961 e conhecida popularmente como “Clube dos Ricos”) pode precipitar uma última cartada do governo Bolsonaro para esvaziar de vez as políticas audiovisuais: fundir a Ancine com a Anatel. Essa medida é recomendada por aquele organismo internacional e já vem sendo estudada na área econômica do governo à revelia da vontade do setor.

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