O longa Mães de verdade, de Naomi Kawase, que estreia nos cinemas, trata de temas sensíveis como a adoção e a gravidez na adolescência. Faz isso opondo as histórias de duas mulheres, Satoko (Hiromi Nagasaku) e Hikari Katakura (Aju Makita), a primeira como mãe adotiva de Asato (Reo Sato) e a segunda a mãe biológica do menino. O que poderia resultar num melodrama de arrancar lágrimas, e ficar só nisso, revela a maternidade em sentidos bem mais profundos.
Um dia Hikari, uma jovem que engravidou aos 14 anos e se vê sozinha no mundo, renegada pela família, decide procurar Satoko para ter o filho de volta. À primeira vista, e a diretora Naomi Kawase é exímia em conduzir intencionalmente a história para certas perspectivas, a sensação é de um oportunismo descabido da mãe biológica. Satoko e Kiyokazu Kurihara (Arata Iura) formam um casal bem-sucedido em suas carreiras que decide ter filhos e, na impossibilidade de, resolve adotar um. Encontram a instituição Baby Baton, de Hiroshima, que faz a conexão entre quem não quer tê-los e aqueles que querem adotá-los. Tudo transparente e legalizado, mas não necessariamente sem consequências.
Diferente do mundo polarizado atual, em que apenas um lado costuma ser observado, Mães de verdade apresenta uma história entrecruzando as mesmas cenas vistas a partir de diferentes óticas. Uma hora se apresenta o lado da mãe adotiva, outra do casal e em uma terceira quem toma à frente da narrativa é a mãe biológica. E é quando a jovem Hikari aparece que ela se apossa do longa, não só por ter tido uma adolescência interrompida pela perda da maternidade, já que a sua mãe a renega pela gravidez indesejada, mas também porque as suas escolhas nunca foram ouvidas ou atendidas.
Naomi vale-se de técnicas como a fragmentação de discursos e longos flashbacks para mostrar as conexões entre personagens totalmente interligadas, ainda que desejem o oposto. Satoko e o marido Kiyokazu estranham ao receber um telefonema de Hikari e até se questionam sobre o que fazer. A jovem busca retomar laços perdidos, não só com o filho, mas também com o afeto que sempre fez falta em sua vida.
A diretora já tem uma carreira exitosa, como nos longas Suzaku (1997), prêmio Caméra d’Or no Festival de Cannes, A floresta dos Lamentos (2007, prêmio do Júri em Cannes, e o Sabor da vida (2015), prêmio do Público de Melhor Ficção na 39ª Mostra Internacional de São Paulo. Mães de verdade (Asa ga kuru, título em japonês) foi o filme indicado pelo Japão para o Oscar.