Sem decreto de nomeação, Mauro Gonçalves de Souza, confirmado há apenas uma semana pelo presidente Jair Bolsonaro como diretor substituto na Ancine, assumiu hoje na prática a presidência da instituição. Ele assina 2 portarias e 4 despachos no Diário Oficial da União na condição de Diretor Presidente Substituto da Agência Nacional de Cinema. Acontece que não foi nomeado nem pelo Ministério do Turismo (ministério ao qual a Ancine é vinculada) nem pela presidência, o que pode tornar inócuas as publicações, sem validade legal.
Mauro, como foi ressaltado aqui há um ano, foi assessor parlamentar do deputado Filippe Poubel, do PSL do Rio, armamentista e ligado às milícias cariocas (em maio de 2020, invadiu um hospital de campanha armado em maio em São Gonçalo, no Rio, tentando intimidar integrantes de uma organização social que atuava na emergência). Souza não tem experiência no setor audiovisual, mas foi primeiro nomeado Superintendente de Registro da agência pelo presidente que saiu, Alex Braga e finalmente, diretor substituto (os outros dois diretores substitutos são Vinicius Clay e Edilásio Barra). Tanto Alex Braga, o que saiu, quanto Mauro Gonçalves de Souza, o que entrou, têm ligações com políticos do Centrão do Congresso Nacional, especialmente com a deputada Soraya Santos (PL-RJ).
Advogado formado pela Universidade Estácio de Sá de Cabo Frio, oriundo da região de Búzios, Mauro Gonçalves de Souza mantém ligações com a sua base de origem. Em fevereiro do ano passado, esteve pessoalmente com um assessor do prefeito de Búzios, André Granado (MDB), para tratar da destinação de recursos para um cineteatro da região. André Granado, o prefeito distinguido, é controverso: foi afastado 11 vezes da prefeitura de Búzios e demonstra vívido interesse na questão do audiovisual desde 2015 – em 2017, em busca de estabelecer um polo audiovisual na região, Granado recebeu pela primeira vez um ministro da Cultura em sua cidade, Sérgio Sá Leitão, que levou consigo para um almoço com o prefeito o então diretor da Ancine, Christian De Castro, e Danielle Nigromonte, então na RioFilme.