Chacrinha sob controle

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Chacrinha, Eu Vim para Confundir e Não para Explicar, Rede Globo

A Rede Globo continua a deter todo o controle narrativo sobre a história de seu ex-contratado Chacrinha, morto em 1989 aos 70 anos. Em 2018, a Globo Filmes coproduziu a ficção Chacrinha – O Velho Guerreiro, sob o comando do diretor global Andrucha Waddington. Agora, a rede usa três de seus braços (Globo Filmes, Globo News e Canal Brasil) para coproduzir o documentário Chacrinha – Eu Vim para Confundir e Não para Explicar, de Claudio Manoel e Micael Langer, dois dos diretores também da dramatização Simonal – Ninguém Sabe o Duro Que Dei (2008).

O anárquico apresentador pernambucano tem sua trajetória remontada por depoimentos como os dos também apresentadores globais Pedro Bial e Luciano Huck, onipresentes ao longo do filme. Huck, não se sabe por quê, aparece pela primeira vez falando sobre empreendedorismo no século XXI. Ambos ganham mais destaque do que, por exemplo, a esposa e os filhos de Chacrinha, a jurada Elke Maravilha ou as chacretes (somente duas são entrevistadas). O ex-diretor global José Bonifácio Sobrinho, o Boni, conta suas próprias versões sobre os entreveros com o apresentador, sempre romantizadas e sem contraponto. O boicote da emissora contra o “velho guerreiro” durante o período em que estiveram rompidos é ignorado a não ser por entrelinhas (fala-se, por exemplo, da depressão de Chacrinha naquela fase).

Ainda que com todas as ressalvas, o documentário conta uma história sempre divertida e por vezes espetacular. Quem viveu os tempos dos programas pode relembrar o carnaval surreal de bacalhaus e abóboras jogados à plateia e chacretes de nomes como Leda Zepelim. Pelas frestas, acontecem alguns poucos momentos reveladores, como quando Pedro Bial admite que havia jabaculê na Globo. Ou seja, cantores e gravadoras pagavam para aparecer no programa, em dinheiro ou em trabalho, como no caso dos roqueiros dos anos 1980, que tinham de participar de graça das caravanas de Chacrinha pelo país. Alguns deles lembram aqueles tempos como se fossem muita diversão, nenhuma exploração.

Chacrinha – Eu Vim para Confundir e Não para Explicar. De Claudio Manoel e Micael Langer. Brasil, 2019. 88 min.

 

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