A pandemia fez o Brasil perder cerca de 133 milhões de espectadores nas salas de cinema em 2020, com um prejuízo estimado de mais de 2 bilhões e 100 milhões de reais no ano. Os números emergem de estudo divulgado ontem pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Em 2021, segundo levantamento feito nas duas primeiras semanas deste ano, a queda de público e renda já chega a 99%.
Quem salvou o cinema em 2020 foi o filme Minha Mãe é uma Peça 3, de Paulo Gustavo, que estreou na última semana de 2019 e bateu o recorde de filme nacional com a maior arrecadação de bilheteria, em valores absolutos, desde a retomada do cinema brasileiro em 1995, com uma receita em torno de R$ 180 milhões e o público superior a 11 milhões de espectadores, sendo mais de 8 milhões em 2020. O filme representou, sozinho, mais de 95% do total de espectadores de longas brasileiros no ano, além de ter sido o filme com maior público total no ano. Como não há mais filmes sendo fomentados pela Ancine, virtualmente paralisada, se anuncia como um desastre monumental.
Números preliminares do Sistema de Controle de Bilheteria (SCB) apontam que o público das salas de cinema brasileiras em 2020 foi de cerca de 39 milhões de espectadores, com uma receita de bilheteria em torno de R$ 630 milhões (uma redução de 77% em relação a 2019, tanto em público quanto em receita de bilheteria).
Em relação aos filmes brasileiros, os números de 2020 indicam um público de 9,1 milhões de espectadores e uma arrecadação de R$ 144,7 milhões, uma redução de 61,8% e 55,8%, respectivamente, em relação a 2019. Com isso, o cinema brasileiro obteve uma participação (market-share) de cerca de 23% em relação ao total.
A Ancine diz que tomou medidas, como a criação de uma linha de financiamento para as salas de cinema. Nem um tostão desse dinheiro chegou ao destino.
ATUALIZAÇÃO (Nota do redator):
Por conta do exagero retórico da última frase da reportagem, achei melhor esclarecer um ponto. A Ancine informou, em sua nota, que agiu para minimizar os efeitos da pandemia de Covid-19 oferecendo uma linha de crédito emergencial para salas de cinema no total de R$ 400 milhões. Checando no Portal da Transparência, é possível concluir que, dos R$ 400 milhões, apenas R$ 16 milhões foram efetivamente pagos, 4% do total de recursos disponibilizados pelo Tesouro. Ou seja: de fato, algum tostão saiu, em uma ação de notável correspondência com as necessidades do mercado audiovisual.
Confira na imagem abaixo: