Pinóquio ensinou gerações de crianças que mentir faz o nariz crescer. A surreal trajetória de um menino de madeira que ganha vida, vive de aprontar e vai parar dentro de uma baleia foi revestida, na animação de 1940 de Walt Disney, de uma leveza e fofura que fugiam da história original. O italiano Carlo Collodi escreveu, entre 1881 e 1883, As Aventuras de Pinóquio (Le Avventure di Pinocchio – Storia de um Burattino), que continha episódios nada edulcorados, como o de um enforcamento sofrido pelo protagonista.
O diretor Matteo Garrone voltou à história original do conterrâneo Collodi para produzir o live-action Pinóquio, que estreia nacionalmente nos cinemas. O solitário Geppetto (Roberto Benigni) recebe de presente um misterioso pedaço de madeira e decide fazer um boneco. Batiza-o de Pinóquio, para dar sorte, e o sonho de ser pai se realiza quando sua criação ganha vida. Mas o garoto (interpretado pelo ator infantil Federico Ielapi) logo se revela desobediente e se irrita com conselhos alheios. Prefere arremessar um martelo na cabeça do Grilo Falante em vez de lhe dar atenção. A companhia de seres bizarros e mal-intencionados lhe parece sempre mais interessante. É por meio deles que conhecerá os perigos do mundo em sua jornada para se tornar “menino de verdade”.
É difícil seguir este novo filme sem traçar paralelos com a história mundialmente conhecida imortalizada pelos estúdios Disney. E nesse exercício involuntário sobressaem os aspectos sombrios imprimidos na adaptação de Garrone. Algumas cenas chegam a assustar, mas no geral Pinóquio revela uma bela cinematografia, figurinos marcantes e efeitos especiais comedidos, porém eficientes. O versátil ator Begnini brilha bem mais do que quando interpretou o protagonista em 2002. Para o ano que vem, a Disney promete um outro live-action, sob direção de Guillermo del Toro.
Pinóquio. De Matteo Garrone, Itália/França/Reino Unido, 2019, 125 min.