Múltiplo João Cabral

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João Cabral de Melo Neto
O poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto em Barcelona, em 1969, em foto do acervo da família

Editora de Recife compila em volume 35 anos de estudos sobre a poesia do mestre pernambucano

A poesia circula livremente entre os bloqueios, escreveu João Cabral de Melo Neto em 1935. No caso da obra do poeta pernambucano (1920-1999), cujo centenário de nascimento se celebra esse ano, a poesia vem de todo lugar. Há poemas que surgem de pinturas de Vicente Rego Monteiro ou André Masson, há poemas de combate ao excesso, há poemas destinados a estancar o tempo. Para abarcar a diversidade dessa produção, a Cepe Editora do Recife publica João Cabral de ponta a ponta, uma compilação de estudos e análises que o ensaísta, professor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Antonio Carlos Secchin vem consagrando ao escritor nos últimos 35 anos.

Secchin analisa mais de 20 títulos de João Cabral. Integram ainda a edição um ensaio inédito (Drummond e Cabral: afagos & alfinetes), uma entrevista de Cabral concedida a Secchin em 1980, a última palestra do poeta em ambiente universitário (na Faculdade de Letras da UFRJ, em 1993) e um caderno de imagens, com a reprodução de várias dedicatórias importantes e de capas ou folhas de rosto de obras do autor, algumas delas muito raras. Averso ao poema lírico, Cabral se autodenominava antilirista. “Minha poesia é intelectual, em alguns livros, é uma poesia de crítica social à situação nordestina; é uma poesia, como dizem os críticos atuais, metapoesia, uma poesia sobre a poesia, mas não é uma poesia lírica. Eu tenho a impressão de que a verdadeira poesia lírica hoje está sendo feita pelos compositores de música. Os grandes líricos do Brasil hoje chamam-se Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda”, disse João Cabral a Secchin. Para o ensaísta, Cabral recorre a comparações do ofício poético com atividades como as do ferreiro, do toureiro ou do pescador exatamente para retirar da poesia a aura do sublime, como efeito de inspiração reservada a “poucos eleitos ou iluminados”.

Segundo a editora, João Cabral de ponta a ponta representa a culminância dos estudos cabralinos do ensaísta Antonio Carlos Secchin, considerado, inclusive pelo próprio poeta, o principal especialista na obra do autor de Morte e vida severina (1966). Doutor em letras, Antonio Carlos Secchin é professor emérito de Literatura Brasileira da UFRJ e poeta com oito livros publicados, entre eles Desdizer (2017), com sua poesia reunida. Em 2018, publicou a obra infantil O galo gago, que recebeu o Selo 10 da Cátedra de Leitura da Unesco. No mesmo ano, lançou Percursos da poesia brasileira: Do século XVIII ao XXI, ganhador do Prêmio APCA de ensaio. Foi eleito em 2004 para a Academia Brasileira de Letras.

 

SERVIÇO
João Cabral de ponta a ponta. De Antonio Carlos Secchin, Cepe Editora, 598 págs, 60 reais o livro impresso, 18 reais o e-book. O lançamento do livro será no dia 26 de agosto, às 17h30, com live de Antônio Carlos Secchin e Schneider Carpeggiani, no canal da Cepe Editora no Youtube.
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