Ilustrada por Ivan Brun, graphic novel Prof. Fall materializa romance de Tistan Perreton e é lançada no Brasil pela Veneta
Personagens da cultura underground de Lyon, na França, o cartunista Ivan Brun (também vocalista da banda punk Coche Bomba) e o escritor Tristan Perreton se juntaram para que o primeiro ilustrasse um romance do segundo, Prof. Fall. O romance, segundo contou Brun, foi uma autopublicação do autor Perreton que lançou-se em uma tiragem de apenas cem cópias, e o escritor o vendia em shows e exposições pela França.
Publicada em 2016, a graphic novel que resultou é uma espécie de O Estrangeiro, de Camus, da depressão moderna. A história do burocrata Michel, cuja vida se divide entre o trabalho mecânico em uma repartição pública e a obsessão voyeurística pelo suicídio que ainda não aconteceu (e finalmente vai parar no meio da guerrilha moçambicana, entre diamantes e putas), reúne elementos do grande debate humanístico do pós-capitalismo. Esgotado o sentido da vida cotidiana de consumo, para que servem os parâmetros?, perguntam-se os autores. Esse questionamento começa com um rasante sarcástico pela arquitetura modernista e termina com o protagonista encarando os artefatos da fé em Lourdes.
No recheio, questões como os horrores da guerra, o tráfico de mulheres, o sexo pago, a ausência de laços afetivos, a persistência do remorso, o conceito elástico de liberdade, a arte cinética e a psicanálise. Tudo entra no pacote vertiginoso do esfacelamento humano tratado em Prof. Fall, editado com esmero pela Veneta, em preto, branco e sépia, capa dura, visual que evoca às vezes o cinema (dos filmes noir como Coração Satânico, de Alan Parker, a Uma Canção para Carla, de Ken Loach). Um portento da literatura existencial.