Os cinco ensaios de Perry Anderson, publicados pela London Review of Books e agora reunidos no livro Brasil à parte, da editora Boitempo, são um esforço considerável de síntese política. Escritos por um historiador e ensaísta marxista inglês, os capítulos são batizados pelos nomes dos presidentes Fernando Henrique, Lula, Dilma e Bolsonaro (Temer aparece como um parêntesis). A principal tese de Anderson é a de que o período da redemocratização se fecha dentro de uma parábola assimétrica entre 1964 e 2018.
“Em 1964, os militares tomaram o poder para remover um presidente disposto demais, na visão deles, a aceitar mudanças radicais na ordem social. Em 2018, eles intervieram para garantir que um presidente popular ainda popular demais, na visão deles, após realizar mudanças bem menos radicais, não fosse reeleito”, escreve o autor, referindo-se à derrubada de João Goulart e o bloqueio de Lula. Para ele, a “colonização do governo Bolsonaro pelas Forças Armadas” é um fato. O Brasil é um caso à parte no mundo, onde suas Forças Armadas têm grande vocação para a repressão dentro de casa, e não o combate fora dela, explica Anderson. Ele classifica o presidente brasileiro como “um novo monstro” da política mundial, ao lado de líderes-ogros como Trump, Le Pen, Salvini, Orbán e Kaczynski.
Em cada capítulo, com exceção do último (“Parábola”), Anderson faz uma avaliação da gestão de cada presidente, não escondendo sua simpatia pelos governos de Lula e Dilma. Mas não o faz sem um senso de crítica. Concordando com o cientista político André Singer, afirma que a presidenta acabou derrubando dois pilares críticos do lulismo, a aliança com o capital financeiro e o pacto com o clientelismo, e foi abandonada à própria sorte pelos empresários nacionais que ela buscou favorecer. A FHC, o historiador considera que não havia razões, fora a vaidade do ex-presidente, para ele por tudo a perder pelo seu projeto de reeleição.
Boa análise