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A partir desta segunda-feira, 16, todas as unidades do Sesc São Paulo estarão fechadas para o público, a princípio até 31 de março. É o que afirma o diretor da instituição, Danilo Santos de Miranda, comunicando uma decisão tomada na manhã desta segunda-feira. “Vamos fechar todas as nossas unidades e orientar os funcionários a ficar em casa, em sua grande maioria”, diz. Abaixo, o gestor se posiciona sobre o comportamento adotado pelo Sesc frente à pandemia de coronavírus.
Pedro Alexandre Sanches: Como o Sesc vai se comportar frente à pandemia de coronavírus?
Danilo Santos de Miranda: Nós, como toda a sociedade, temos de reagir de acordo com as características do momento. Diante de uma situação excepcional como essa, se age de maneira excepcional também. Nós tínhamos tomado algumas medidas preventivas importantes, espalhando informação, orientando as pessoas de como agir, sejam funcionários, sejam clientes, no que diz respeito aos cuidados higiênicos: lavar as mãos, cuidar, espalhar álcool-gel em todas as unidades, ter todo o cuidado na alimentação, na odontologia. Mas isso se tornou insuficiente mais recentemente. Pelo que nós estamos percebendo, a sociedade está vendo um crescimento grande da proliferação do vírus. Então nós tomamos a decisão hoje, agora pela manhã, de fechar tudo. Vamos fechar todas as nossas unidades e orientar os funcionários a ficar em casa, em sua grande maioria. Claro, um mínimo de funcionalismo tem que ter, no que diz respeito a burocracia interna, pagamentos, funcionamento básico da manutenção das coisas. Mas a programação está toda suspensa, a partir de hoje.
PAS: E por tempo indefinido?
DSM: Nesse primeiro momento é uma previsão até o dia 31 de março, para ser avaliado posteriormente. Essa é a decisão que me parece mais acertada, tendo em vista que a própria administração pública está providenciando isso, está orientando dessa maneira. Mas nós, independentemente da própria orientação, temos que levar em conta a questão da proliferação do vírus. É o que interessa a esta altura. Então espetáculos, exposições, seminários, cursos, reuniões as mais variadas com qualquer número – no primeiro momento estávamos admitindo até certo número -, agora estamos radicalizando a ponto de evitar e proibir dentro do Sesc qualquer tipo de aglomeração.
PAS: No fim de semana já houve cancelamentos?
DSM: Houve, nós já havíamos tomado decisões a respeito das piscinas, por causa dos vestiários, das piscinas. Em alguns casos, como o mirante da avenida Paulista, tínhamos fechado no domingo. Algumas medidas tinham sido tomadas, sim, para evitar um número maior de pessoas em espetáculos etc. Mas agora nós resolvemos a medida mais radical, que é fechar as unidades.
PAS: Dá para medir o impacto de uma decisão desse tamanho?
DSM: Para nós é imenso. O impacto significa afetar a vida de muita gente, em primeiro lugar: pessoas que frequentam, grupos específicos, como da terceira idade, crianças que frequentam o Curumim, pessoas que assistem aos espetáculos, artistas que estão cancelando, por eles mesmos e agora por nós também. Portanto, é um grande número de pessoas que deixam de ter a oportunidade de se apresentar, seja do teatro, da música, da dança, visuais. Afeta a vida de muita gente. Quantificar isso em números não é fácil agora, e muito menos em termos de valores. Mas sem dúvida nenhuma significa um grande prejuízo, não do ponto de vista financeiro, para nós, mas para as pessoas mesmo. Não fazendo a gente deixa de gastar, mas não é interesse nosso que aconteça desse jeito. Na realidade, nós lamentamos demais o que está acontecendo, mas é inevitável, tendo em vista que o mal que nos aflige é muito maior, muito mais grave. Justifica plenamente essa atitude que nós estamos assumindo. Havia já uma expectativa com relação a muitos organismos culturais ou comunitários que reúnem muita gente. O Sesc sempre teve um grande afluxo de gente nas nossas unidades, nas nossas piscinas, nas nossas quadras, nos nossos teatros e exposições. Isso sempre foi motivo de satisfação e orgulho nosso, pela programação. Agora, infelizmente, nós temos que abrir mão de tudo isso, porque o momento exige. Diante de uma situação de emergência, as medidas têm que ser realmente radicais e de emergência.
PAS: A gente vê artistas preocupados com a manutenção do sustento deles, devido ao cancelamento de shows. Há alguma conversa nesse sentido?
DSM: É verdade, infelizmente. Isso é inevitável. A gente lamenta, mas não dá para fazer de outro jeito. Nós temos os grupos de idosos que frequentam o Sesc diariamente, tomam refeições diárias no Sesc, participam da vida no dia a dia, vão ler seu jornal nas áreas de convivência, que estão quase que passando a vida lá dentro. Esses serão afetados profundamente. As pessoas que estão em tratamento odontológico, que estão frequentando as unidades por um serviço qualquer. É muita gente. Os artistas serão afetados, mas muito mais gente será afetada além deles, muita gente. Isso não justifica, não é uma resposta, é só acrescentar que muito mais gente será afetada. Mas é inevitável.