A sétima edição da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) renova sua preocupação em apresentar espetáculos de experimentação e investigação cênicas que fogem do lugar comum. O festival deste ano traz 12 montagens internacionais que tratam de temas caros para a atualidade. Discussões sobre gênero e violência contra a mulher, transfobia, imigração, racismo e guerras civis serão abordadas nesses espetáculos inéditos no Brasil.
O solo da indiana Mallika Taneja, em Tenha Cuidado (6, 7 e 8 de março, no Itaú Cultural), começa a partir da silenciosa nudez da atriz no palco e vai, numa clara provocação, questionando sobre as convenções que a sociedade impõe às mulheres até sobre as formas de elas se vestirem. O pano de fundo é o estupro coletivo e assassinato da estudante de medicina Jyoti Pandey, de 23 anos, que gerou uma onda de protestos em Nova Déli, na Índia. Em outro monólogo, Travis Alabanza fala, em Burgerz (13, 14 e 15, no Centro Cultural São Paulo), de uma situação que muitos corpos trans têm de enfrentar na sociedade: a falta de solidariedade e compaixão quando eles são vítimas. Uma pessoa arremessou um hambúrguer na direção de Travis e ninguém que presenciou a cena lhe socorreu.
A atriz Dorothée Munyaneza, em Sábado Descontraído (6, 7 e 8, no Sesc Avenida Paulista), relembra como conseguiu sobreviver à guerra civil que tomou conta de Ruanda, em 1994, e provocou o genocídio de 800 mil ruandenses, num espetáculo entrecortado por músicas que eram tocadas na rádio local. O Pedido (10, 11 e 12, no Teatro Cultura Inglesa Pinheiros), do dramaturgo Tim Cowburry em parceria com o diretor Mark Maughan, mostra como o racismo afeta a vida de um exilado no Congo, que tem de enfrentar a burocracia e a injustiça.
Nesta edição, o artista internacional em foco será o português Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional Dona Maria II, de Lisboa. Ele apresenta dois espetáculos, Sopro (13, 14 e 15, no Teatro Sesi) e By Heart (10, 11 e 12, no Teatro Faap). A primeira peça rende uma homenagem ao teatro a partir da personagem Cristina Vidal, que trabalha como “ponto”, aquela profissional que sopra as falas esquecidas dos atores. Na segunda montagem, Rodrigues inicia sozinho no palco, mas convida dez pessoas da plateia para ajudá-lo na história afetiva sobre a sua avó Cândida, regada por um passeio pela literatura mundial.
Na programação da Plataforma Brasil, foram selecionados espetáculos nacionais igualmente engajados em causas contemporâneas, como Meia Noite (11 e 12, no Teatro Alfredo Mesquita), do bailarino pernambucano Orun Santana, que trata do corpo negro na dança, o tema da violência contra a mulher abordado em Entrelinhas (14 e 15, no Teatro Cacilda Becker), do Coletivo Ponto Art, da Bahia, e tReta (13 e 14, no Tendal da Lapa), do grupo piauiense Original Bomber Crew, sobre a violência urbana que atinge os jovens periféricos.