O Reino: A sombra do bispo Edir Macedo

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Capa do livro O Reino - A História de Edir Macedo e uma Radiografia da Igreja Universal
O jornalista Gilberto Nascimento acaba de lançar O Reino - A História de Edir Macedo e uma Radiografia da Igreja Universal, da Companhia das Letras.

Durante quatro anos, o jornalista Gilberto Nascimento ouviu mais de 70 pessoas para escrever O Reino – A História de Edir Macedo e uma Radiografia da Igreja Universal (Companhia das Letras), que acaba de lançar. Mas sua investigação do desenvolvimento desse império começou ainda nos anos 1980, quando cobria assuntos eclesiásticos nos jornais O São Paulo e Tempo e Presença. De lá para cá, a igreja de Edir Macedo aglutinou cerca de 10 mil templos no Brasil e no exterior, em mais de 90 países, e conta com 1,8 milhão de seguidores (costuma apregoar que são 9 milhões).

O interesse pelo poder político crescente de Macedo nunca encontrou boa acolhida nas fontes oficiais, mas isso não desanimou o jornalista, que é detentor de mais de dez prêmios de jornalismo (Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, Ayrton Senna e Simón Bolívar entre eles). De uma crise de gestão de 1990, na qual relata uma cena de Edir Macedo chorando e rezando no chão de um banheiro, até a explosão de influência nos governos que se seguiram, a história desse império é tão obscura quanto incontornável para a jovem democracia brasileira.

De pregador de rua no coreto do Jardim do Méier, no Rio, até um triplex de 600 metros quadrados em Higienópolis, passando pela prisão em 1992 sob acusação de “estelionato, charlatanismo e curandeirismo” durante 11 dias (quando foi visitado por Gugu Liberato, Aloysio Nunes Ferreira e o ‘beijoqueiro’ José Alves de Moura), chegando ao governo Bolsonaro (do qual sua emissora TV Record levou 10 milhões de reais de publicidade em 2019, ante 7 milhões de reais da Globo), Nascimento não esqueceu de nenhum acontecimento da vida de Edir Macedo.

Os detalhes surgem, em si, carregados de ironia. Para sair da cadeia, Macedo contratou o melhor advogado, Marcio Thomaz Bastos, que era chamado de “Deus” nos meios jurídicos, por meio milhão de dólares. O recheio da história, entretanto, é ainda mais rico. Há suspeitas de encomendamento de assassinatos (o bispo Valdeci Paiva de Jesus poderia ter sido vítima de um concorrente, o bispo Rodrigues, segundo a CPI dos Bingos, em 2005), as estratégias arrecadatórias (cujo nome, para alguns juristas, é achaque), as contas nos paraísos fiscais, os jatinhos, bispos orando com traficantes, como Fernandinho Beira-Mar, em prisões. 

Algumas conclusões de Nascimento, ainda nos anos 1980, parecem proféticas. “A economia ia muito mal. Quanto mais os indicadores pioravam, mais a população recorria à ajuda divina. Nas grandes e médias cidades, a Universal se deparava com uma classe média baixa às voltas com desemprego e subemprego. Milhares de brasileiros iam em busca da cura, do exorcismo e da prosperidade, fosse nos templos da Universal, fosse em outras igrejas neopentescostais.”

 

O Reino – A História de Edir Macedo e uma Radiografia da Igreja Universal. De Gilberto Nascimento. Companhia das Letras, 379 págs, 60 reais.
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