O teatro gestual requer uma cumplicidade entre atores e plateia alguns graus acima do normal. Em uma peça de absoluta ausência oral, de diálogos e de falas, essa exigência se multiplica. O corpo no palco se movimenta, gesticula, exprime, comunica. Ele é a própria linguagem. A Cia Dos à Deux é um dos grupos mais consistentes desse gênero, e celebra, no Centro Cultural Caixa no Rio, suas mais de duas décadas com a apresentação de duas peças de seu longo repertório.
Irmãos de sangue investiga os laços fraternos, as memórias e os conflitos que marcam a convivência familiar. Vencedora do Prêmio Shell 2014 nas categorias cenário e ator, a montagem leva ao palco três irmãos e sua mãe. Já a peça Aux pieds de la lettre é uma tragicomédia que surgiu a partir de uma imersão dos atores Artur Luanda Ribeiro e André Curti em um hospital psiquiátrico de Paris. Premiado internacionalmente, o espetáculo brinca com as situações dessa unidade de saúde, flertando com o burlesco e o absurdo.
Além de atores, Artur e André são coreógrafos e diretores teatrais. Eles se conheceram em um festival em Paris, em 1997, e um ano depois fundaram a companhia que hoje possui dez espetáculos. Radicada na França há quase duas décadas, de onde já percorreu mais de 50 países e soma mais de 1.500 apresentações, a Cia Dos à Deux montou uma segunda sede no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, há seis anos. Sem palavras ou verbos, eles expressam com inteligência o que muitos de nós queremos botar para fora.