A história da música pop está coalhada de casos de grupos que anteciparam as coisas mas desapareceram antes de serem notados. Com o tempo, seu visionarismo vai sendo reposto na ordem do dia pela curiosidade do futuro, que nunca falha. Esse é o caso da banda capixaba Os Mamíferos, que bagunçou os cânones do rock e do pop a partir de 1966 com uma performance psicodélica, inspirada em elementos insólitos para a época (Allen Ginsberg, Aldous Huxley, Marshall McLuhan, John Coltrane).
À exceção do frontman do grupo, o andrógino cantor Aprígio Lírio, já morto, Os Mamíferos estão todos vivos e bem. De vez em quando, é possível encontrá-los para uma moqueca ou uma peixada no também mítico restaurante Pirão, em Vitória (ES). Em 1966, portanto antes dos Secos & Molhados, eles pintavam os rostos e se apresentavam fantasiados em shows em Vitória. Seria um caso curioso de simultaneidade cultural, não fosse o fato de que Ney Matogrosso tenha vivido em Vitória e trabalhado como professor substituto no curso de artes da Universidade Federal do Espírito Santo na mesma época.
O trio original de Os Mamíferos era composto de Afonso Abreu, Mário Ruy e Marco Antônio Grijó. Mas a banda tornou-se uma espécie de célula vanguardista no decorrer dos anos e foi amealhando intelectuais e músicos pelo caminho. Além de Aprígio Lírio, o teórico do grupo, Arlindo Castro (que atuava mais como compositor e no conceito) morreu do coração há uns dez anos. Outros dois compositores muito ativos do núcleo, Rogério Coimbra e Sérgio Régis, continuam produzindo.
Há pouquíssimos registros da efêmera passagem de Os Mamíferos pela cena musical (chegaram a se apresentar no Rio de Janeiro e em festivais), mas a história que restou já foi recuperada em um livro fundamental para a historiografia da MPB: Os Mamíferos – Crônica Biográfica de uma Banda Insular, de autoria de Francisco Grijó.
Agora, está sendo lançado o longa-documentário “Diante dos meus olhos”, de André Felix, que repisa os passos dos sobreviventes do grupo e de sua trajetória fulminante e antecipatória. Nesta sexta, 29 de novembro, o filme está sendo mostrado à imprensa pela primeira vez em São Paulo, às 10h30, no Cinemark Cidade de São Paulo. André Félix é diretor e roteirista e Diante dos meus olhos é seu primeiro longa-metragem. Anteriormente, foi co-roteirista de Entreturnos, de Edson Ferreira e dirigiu os curtas-metragens A Cor do Fogo e A Cor da Cinza e Valentina. É mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia e professor.
O filme percorre as rotinas de Marco Antônio, Afonso e Mario Ruy e contrasta suas vidas atualmente normais com a voracidade dos dias de Mamíferos. A recuperação da memória do grupo é fruto do trabalho do Projeto Aurora Gordon, do filho de Afonso Abreu, Murilo, que se dedica a remontar a história desde 2005, utilizando música, cinema e literatura.
OS MAMÍFEROS
Direção e Roteiro: André Félix
Produção e Produção Executiva: Carlos Dalla, Murilo Abreu, Vitor Graize e André Félix
Direção de Fotografia: William Sossai
Montagem: Luiz Pretti
Som Direto e Edição de Som: Hugo Reis
Elenco principal: Afonso Abreu, Marco Antônio Grijó e Mario Ruy
Empresas produtoras: Clareia, Pique-Bandeira Filmes e Serena
Distribuição: Pique-Bandeira Filmes
Duração: 83 minutos
Gênero: Documentário
Ano: 2018
Classificação Indicativa: 12 anos
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