Filmado no hotel social Parque Dom Pedro, no centro de São Paulo, o documentário Diz a Ela Que Me Viu Chorar, da cineasta e antropóloga Maíra Bühler (com produção de Anna Muylaert), faz um mostruário do dia a dia de 105 habitantes do local, integrantes de um programa de redução de danos para cidadãos com histórico de abuso de crack, álcool e outras drogas. Ainda que use cenas explícitas de consumo de crack, o filme opta pelo lado terno e amoroso da vida daqueles paulistanos, em sua grande maioria negros e mestiços. 

As cenas acompanham momentos banais da vida dos moradores do Parque Dom Pedro, que traduzem a instabilidade de suas vidas sentimentais. Devagar, o desespero vai surgindo nas entrelinhas, nos romances desfeitos, no cotidiano. A música e a poesia penetram nas vidas dos mais vulneráveis de nós, quando um morador canta “Pede a Ela”, de Tim Maia, ou quando um grupo entoa, descontraidamente, “Maneiras”, de Zeca Pagodinho: Se eu quiser fumar, eu fumo/ se eu quiser beber, eu bebo/ eu pago tudo que eu consumo/ com o suor do meu emprego. O samba se conclui, categórico na boca de quem canta: Mas digo sinceramente/ na vida, a coisa mais feia/ é gente que vive chorando/ de barriga cheia.

Diz a Ela Que Me Viu Chorar. De Maíra Bühler. Brasil, 2019, 87 min.
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