A escultora Aline Matheus investiga a relação dos corpos e de seus movimentos por meio de materiais como a resina, o barro, o ferro, a madeira e sucatas em geral. A partir de um único formato de perna de manequim, mas com dezenas de unidades, ela as empilha para criar uma obra que remete aos navios negreiros. O corpo, enquanto objeto político, fala, grita, mesmo que inerte.
Na exposição “Escravidão Contemporânea Esperança de Regresso”, recém-aberta na Caixa Cultural Fortaleza, a artista Aline Matheus apresenta 21 trabalhos que ela vem desenvolvendo – e já tendo apresentado em outras mostras – na busca de criar diferentes interpretações sobre o que é o homem contemporâneo. E, mais especificamente, como esse homem ainda é sujeito e objeto de formas distintas de escravidão no século 21.
Com curadoria de Claudio Boeckel, o novo trabalho de Aline Matheus aprofunda um diálogo que a dupla já realizou em Pernas pra que te quero. Esta outra exposição ficou em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio, entre fevereiro e março.
Desta vez, a artista plástica procura também falar ao mundo sobre o que vê e a incomoda em sua dupla vida. Aline também trabalha no Ministério do Trabalho, onde tem acesso a relatos de escravidão moderna. Vem daí sua necessidade de romper com o silêncio de uma sociedade que se cala diante da escravidão contemporânea.
No catálogo da exposição, um verso parece ser simbólico desse silêncio coletivo: “Botar pra fora essa raiva… que atrás disso tem gente/ herança legado macabro/ que passa de pai pra filho/ cortar a cana e a vida/ sem céu sem lua sem lei/ sem certidão nem contrato“.