Balada política

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Da esquerda para a direita, Marcelino Freire, Lívia Viana, Antônio José Medeiros e Lucineide Barros, na mesa de abertura da Balada Literária em Teresina. Foto: Zema Ribeiro
Da esquerda para a direita, Marcelino Freire, Lívia Viana, Antônio José Medeiros e Lucineide Barros, na mesa de abertura da Balada Literária em Teresina. Foto: Zema Ribeiro

Teresina/PI – “A leitura do mundo precede a leitura da palavra.” Este foi o tema da mesa de abertura da Balada Literária em Teresina – o evento é realizado desde 2006 em São Paulo e chega pela terceira vez à capital piauiense. Antes passou por Salvador (entre 21 e 25 de agosto) – o circuito 2019 se encerra em São Paulo, de 4 a 8 de setembro.

Ousada desde o nascimento, idealizada pelo escritor pernambucano Marcelino Freire, radicado em São Paulo desde o início da década de 1990, a Balada Literária de 2019 homenageia Paulo Freire, eleito um dos principais inimigos do bolsonarismo, odiado por gente que nunca leu um livro seu.

“Me disseram: “você está maluco em querer homenagear Paulo Freire. Você não vai conseguir apoio”. Mas não me interessa o apoio de quem não apoia Paulo Freire, ironizou Marcelino Freire, que brincou: “Até de nepotismo me acusaram, disseram que eu estava homenageando um tio meu. Quem dera!”, comentou, sobre a coincidência dos sobrenomes. Os homenageados da Balada Literária são anunciados com um ano de antecedência. Em Teresina, o homenageado local é o poeta Élio Ferreira. O homenageado nacional de 2020 será anunciado em São Paulo.

Marcelino Freire mediou a mesa de abertura, realizada na manhã de hoje, no Teatro Torquato Neto, com as presenças de Lívia Viana (editora carioca do Grupo Record, responsável pelo relançamento da obra de Paulo Freire) e os professores Lucineide Barros (Uespi) e Antônio José Medeiros (UFPI).

A primeira pergunta disparada pelo moderador foi: “Qual a importância de Paulo Freire e o que ele fez para ser tão odiado hoje?”. Para a professora Lucineide Barros, “​é preciso muito cuidado para não vestir a roupa do opressor, para não se tornar o hospedeiro do opressor. Paulo Freire é negligenciado nos espaços, sobretudo no espaço acadêmico, pouco lido e pouco estudado diante do que é em outros países”.

Para o professor Antônio José Medeiros, “a obra de Paulo Freire nasce da preocupação e da necessidade de superar o problema do analfabetismo entre adultos. Analfabetos não são incultos, essa é uma das ideias básicas de Paulo Freire, a questão da educação bancária versus educação libertadora. Educação não é transmissão, é diálogo. Para ele era muito cara a questão das rodas de diálogo, isso que estamos tendo aqui”, afirmou, exibindo um exemplar da primeira edição de Educação como Prática da Liberdade, publicado em 1968, quando Paulo Freire estava no exílio no Chile, então inimigo daquela outra ditadura, iniciada em 1964.

Os presentes à Balada Literária em Teresina souberam em primeira mão do lançamento da obra de Paulo Freire em audiolivros – “isso é inclusivo”, assegurou Lívia Viana. Uma das obras será narrada por Marcelino Freire. A editora apresentou também a reedição de Pedagogia da Autonomia, que volta ao mercado pela Paz e Terra, do grupo editorial Record – que reúne 14 editoras –, além do inédito Direitos Humanos e Educação Libertadora, que conta sua breve experiência como secretário de educação do município de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina, que assina a orelha do volume.

Respondendo à pergunta de Marcelino Freire, Lívia Viana afirmou que “​Paulo Freire representa, já àquela época, tudo o que é contra esse governo. Sua obra já marca muito fortemente a questão de gênero, por exemplo”. Em sua opinião, o ódio do bolsonarismo ao autor, impulsionou as vendas de suas obras. “Até as buscas por Paulo Freire no Google aumentaram”, disse.

A edição teresinense da Balada Literária em 2019 acontece em parceria com o FestLuso, o Festival de Teatro Lusófono. O evento conta com a presença do escritor português Valter Hugo Mãe. Amanhã (28), a cantora maranhense Rita Benneditto apresenta o show “Suburbano coração”, com o maestro Jaime Alem (violão), às 19h30, no Teatro 4 de Setembro. Toda a programação é gratuita.

“​A Balada Literária é uma balada política, a gente precisa se apropriar. As pessoas estão mais se contentando em curtir posts quando devem ir às coisas”, conclamou Marcelino Freire à ação cultural – mais um conceito freireano.

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